28/06/2011 - 22h25 Autor: SILVIO PROFIRIO DA SILVA
A dificuldade de Interpretação de Textos de alunos de escolas da Rede Pública de Ensino: uma problemática para superar
Silvio Profirio da Silva
Aluno do Curso de Letras da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE.
E-mail: silvio_profirio@yahoo.com.br
Este texto tem por objetivo abordar as mudanças didático-pedagógicas no ensino de Língua Portuguesa e seus reflexos nos processos seletivos [Enem, Provas de Concurso e de Vestibular]. Atrelado a isso, pretendemos refletir acerca da dificuldade de interpretação textual dos alunos oriundos de escolas da Rede Pública de Ensino.
A temática da dificuldade de compreensão textual, por parte de alunos provenientes de escolas públicas, não é algo recente. Pelo contrário, há décadas uma gama de autores aborda tal problemática. Contudo, nos últimos anos, essas discussões tem se intensificado por conta dos altos índices negativos no concerne à competência de leitura. Todos sabem que, nos dias atuais, a leitura tornou-se uma competência linguística primordial, que surge como diferencial, sobretudo, no que tange aos processos seletivos, tais como: Concursos, Enem e Provas de Vestibular.
Contudo, o resultado de diversas avaliações nacionais, como é o caso do Saeb, Prova Brasil e Saepe, demonstra que um número significativo de alunos tem dificuldade de interpretar textos. Segundo Santos (2007, p.788), “dados do último Prova Brasil mostram que 61% dos alunos, ao final do quarto ano do Ensino Fundamental não conseguem identificar as principais idéias de um texto simples, enquanto que 60% dos alunos, ao final da etapa fundamental da escolarização brasileira, não sabem interpretar um texto dissertativo. Esse é um quadro nada animador em relação à capacidade de leitura de nossos alunos”. Essa situação, em muitos casos, se deve à metodologia de ensino de Língua Portuguesa utilizada em diversas escolas brasileiras. Dito de outra forma, a metodologia desenvolvida em diversas escolas centra-se, predominantemente, no ensino de normas e regras gramaticais [frases isoladas, soltas e descontextualizadas]. Essa ênfase à Gramática Normativa extingue a possibilidade da formação de um leitor competente.
Durante muito tempo, o ensino de Língua Portuguesa, no Brasil, foi norteado por uma concepção de língua monolítica. Consoante Bezerra (2010, p.39), “tradicionalmente, o ensino de Língua Portuguesa no Brasil se volta para a exploração da Gramática Normativa, em sua perspectiva prescritiva (quando se impõe um conjunto de regras a ser seguido”. Dentro dessa perspectiva, durante décadas, a metodologia de ensino dessa disciplina desenvolvida nas escolas brasileiras centrou-se na abordagem da Gramática Normativa, o que, por conseguinte, limitou-se, na maior parte das vezes, à análise e à classificação gramatical, conforme sinalizam Cereja & Magalhães (2005, p. 3).
No entanto, nos anos 80, ocorre uma intensa eclosão de estudos de diversas correntes da Linguística [são exemplos disso, os estudos da Corrente Funcionalista, da Análise do Discurso da Linguística Textual, da Pragmática, da Sociolinguística]. Esses estudos ocasionam uma nova concepção de língua [como atividade social], o que ocasionou inúmeras alterações na metodologia de ensino de Língua Portuguesa. De acordo com (SANTOS, 2002, p. 30-31) “a partir da década de 80, deslocou-se o eixo do ensino voltado para a memorização de regras e nomenclaturas da gramática de prestígio, para um ensino cuja finalidade é o desenvolvimento da competência lingüístico-textual, isto é, o desenvolvimento da capacidade de produzir e interpretar textos em contextos sócio-históricos verdadeiramente constituídos”. Dentro desse contexto, surge um novo enfoque para o ensino de língua. Com isso, “o texto passa a ser objeto de ensino” (SANTOS, 2007, p.787). É nesse cenário que o ensino dessa disciplina passa a ser abordado por meio de situações reais de comunicação, o que leva para os bancos escolares o ensino contextualizado da gramática, conforme ressaltam Cereja & Magalhães (2005, p. 3-4). Isto é, “o texto considerado no contexto em que se dá a produção do enunciado linguístico” (CEREJA; MAGALHAES, 2005, p.3).
Esses novos paradigmas oriundos dos estudos da Linguística Contemporânea estão sendo adotados não só na prática didático-pedagógica do ensino de Língua Portuguesa, mas também pelos processos seletivos, como, por exemplo, Enem, Provas de concurso e de vestibular. Consoante Ramires (2007, p. 3), “as provas de língua e de redação nos vestibulares mais recentes trazem questões que apresentam uma visão mais moderna dos postulados lingüísticos”. Nessa perspectiva, tais propostas têm sido acolhidas pelos principais órgãos que elaboram provas de vestibular no estado de Pernambuco, como, por exemplo: Covest e UPE. Porém, muitos professores persistem em continuar com a abordagem centrada, exclusivamente, na Gramática Normativa. Essa metodologia de ensino tradicional interfere diretamente na competência linguística de interpretação textual dos alunos. Diante isso, a maior parte dos estudantes de escolas públicas tem dificuldade em interpretar textos para diversos tipos de provas, tais como: concursos, Enem e vestibular.
Todos esses novos conteúdos abordados nos mais recentes processos seletivos fazem parte do que é determinado pelos documentos oficiais [PCNs e OCNs]. As novas propostas curriculares concebem o ensino de língua por meio de uma perspectiva textual-discursiva, opondo-se a prática tradicional de frases soltas e isoladas de um contexto situacional (CEREJA; MAGALHAES, 2005). Entretanto, em boa parte dos casos, essa nova abordagem do ensino de língua não se faz presente na maior parte das escolas públicas. Ou seja, diversas escolas não trabalham com base nessa nova postura teórico-metodológica do ensino de língua. Nesse sentido, a escola deve abrir espaço para essa nova abordagem do ensino de Língua Portuguesa [não só Portuguesa, como também Estrangeira], o que propicia, a seus alunos, uma formação qualificada. Mas, sobretudo, propicia a formação de leitores competentes [aptos a compreender e interpretar diversos gêneros/ tipos de texto e diversas estratégias de leitura]. O que, por conseguinte, irá prepará – los para os mais diversos momentos com que irão se deparar na atual sociedade competitiva [onde o saber surge como diferencial].
Referências
BEZERRA, Maria Auxiliadora. Ensino de língua portuguesa e contextos teórico-metodológicos. In: DIONÍSIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Raquel; BEZERRA, Maria Auxiliadora. (Org.). Gêneros textuais & ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
CEREJA, William R.; MAGALHÃES, Thereza C. Gramática Reflexiva: texto, semântica e interação. São Paulo: Atual, 2005.
RAMIRES, Vicentina. Redação no Vestibular: Avaliação Subjetiva e Competência Linguística. IV SIGET, v. 1, p. 1988-2000, 2007.
SANTOS, Carmi F. A Formação em Serviço do Professor e as Mudanças no Ensino de Língua Portuguesa. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.3, n.2, p.27-37, jun. 2002. Disponível em: www.fae.unicamp.br. Acesso em: 10 jan. 2010.
_____. Letramento e ensino de História: os gêneros textuais no livro didático de História. In: Anais do 4º Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais – Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão, Santa Catarina, 2007. Disponível em: http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/cd/Port/33.pdf. Acesso em: 10 jan. 2010.
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