quarta-feira, 19 de abril de 2017

O RIO E O MAR - EVELYN HEINE

O Sr. Rio e o Sr. Mar, que todo dia se encontravam, ficavam ali, naquele chove-não-molha, contando vantagem um para o outro.
— Sabe, Mar - dizia o Rio — hoje eu passeei tanto, mas tanto, que estou até cansado! Vi uma porção de coisas lindas no caminho. Árvores sacudindo ao vento, crianças brincando e rindo, homens pescando bem sossegados...
— Que bom para você! — respondia o Mar. — Pois eu fiquei aqui mesmo, no meu lugar, sem passear. Fiquei brincando de vai-e-vem, de cambalhota, de molhar a areia... De agitar e de acalmar.
— Mas, puxa! — disse o Rio. — Será que você não se cansa de ficar a vida inteira aí parado, sem poder se mandar pra nenhum lado?
— Eu, não. — respondeu o Marzão. — Sou tão grande, tão enorme, que não posso me mexer. Mas eu nem ia querer. Conheço o mundo todo, mais lugares que você.
O Rio, mesmo assim, continuou:
— Prefiro mil vezes ser pequeno e andar por aí, rasgando o mapa. Ninguém me segura no lugar. Só mesmo os homens com aquelas barreiras, podem me represar.
— Pois é... — aproveitou o Mar. — quero ver homem pra me segurar...
Com essa, o Rio se calou, apressado para seguir seu caminho.
Já indo embora, ele gritou:
— É, Marzão, você até que tem razão. Cada um com o seu jeito... não é, não?
E o que importa é viver bem, com a vida que se tem!
Postado por Evelyn em 19.8.07



O conto é uma obra de ficção que cria um universo de seres, de fantasia ou acontecimentos. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo.
Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua pequena extensão. Mais curto que a novela ou o romance, o conto tem uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem apenas um clímax. Num romance, a trama desdobra-se em conflitos secundários, o que não acontece com o conto.

TIPO DE NARRADOR DO TEXTO O RIO E O MAR.

O narrador-observador conta a história do lado de fora, na 3ª pessoa, sem participar das ações. Ele conhece todos os fatos e, por não participar deles, narra com certa neutralidade, apresenta os fatos e os personagens com imparcialidade. Não tem conhecimento íntimo dos personagens nem das ações vivenciadas.

QUE A NOSSA VIDA SEJA UM ETERNO CARNAVAL. BRUNA GROTTI

O Carnaval acabou. A fantasia rasgou, a poeira baixou, o folião sossegou. A rua, que até ontem estava tomada por palhaços, ciganas, piratas e Madonnas, hoje se inunda da nada poética poeira que os encanamentos vomitam por aí. As casas, que até ontem eram cerveja e papo toda a madrugada e sono e sexo toda a tarde, hoje são despertadores que, sem gentileza, cospem seus moradores das camas. O ócio, que até ontem era lei, hoje é crime. Vai trabalhar, vagabundo.
E a gente vai. Com medo, mas vai. Afinal, quem é que vai amparar o arlequim que mora dentro de nós? Quem é que vai enxugar as lágrimas do nosso pierrot? Quem é que vai contar pra nossa colombina que ela é livre pra dançar? Sem o Carnaval, a gente volta para a insuportável sina de ser quem o mundo quer que a gente seja. Um bom homem de negócios. Uma boa engenheira. Um jornalista dedicado. Uma advogada exemplar.
Alguém cheio. De compromissos, de problemas, de tristezas. Que geralmente são mascarados aos finais de semana. Uma cervejinha aqui, uma baladinha ali: bocas raivosas trocando saliva. Um bom rodízio, um bom restaurante: bocas raivosas mastigando pedaços de carne. E por uns minutos, a gente chega a achar que está tudo bem. Afinal, a gente tem um bom emprego. Uma boa casa, com um bom cachorro e bons filhinhos para pentear antes de irem para a escola. Uma boa família, com uma mãe que lava, passa e cozinha, enquanto o pai se senta no trono de um apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes – e a Itaipava na mão –, esperando a morte chegar.
Mas surpreendentemente, quando o domingo anoitece e a impiedosa abertura do Fantástico ressoa pelas TVs país afora, a gente percebe que não está tudo bem. O coração aperta. A gente prefere que chegue o juízo final à manhã de segunda-feira. Porque, no fundo, a gente sabe que a felicidade é uma doutora com agenda disponível apenas entre as 18h de sexta e as 23h de domingo. A gente sabe que os próximos cinco dias vão ser infernais – pelo menos das 9h às 18h. E a gente sabe que só vai voltar a ficar tudo bem, bem mesmo, na próxima sexta, depois das 18h.
Ou nas próximas férias. Ou feriado. Ou Carnaval. Quando todo mundo sorri. Quando todo mundo ama. Quando quem é de Netflix fica na frente da TV o dia inteiro e quem é de bloquinho pula na rua o dia inteiro. Quando a gente é livre pra ser o que a gente quiser. Sem julgamento de pai ou mãe. Sem doutrinação religiosa. Sem imposição de mercado.
Que a vida não é um infinito mar de rosas a gente já sabe. E diante da impossibilidade de nadar diariamente entre pétalas, há só uma coisa que eu te desejo: que a sua vida seja um eterno Carnaval.

  CRÔNICA - Na literatura e no jornalismo, uma crónica (português europeu) ou crônica (português brasileiro) é uma narração curta, produzida essencialmente para ser veiculada na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jornal ou mesmo na rádio. Possui assim uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o leem.

O MENINO NO ESPELHO - FERNANDO SABINO - RELATO PESSOAL

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Nesta obra, o menino Fernando, que vem a ser o próprio autor, vive todas as fantasias de sua infância por meio de uma deliciosa viagem ao passado de um dos melhores escritores brasileiros. Sabino conta suas memórias, intercalando fatos reais e imaginários, histórias mirabolantes de um menino mineiro que cresceu na Belo Horizonte de 1920. Emocionante e engraçado, o livro é um clássico que acompanha gerações.

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