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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Assaltos insólitos - LEITURA E INTERPRETAÇÃO

Assaltos insólitos

Assalto não tem graça nenhuma, mas alguns, contados depois,
até que são engraçados. É igual a certos incidentes de viagem, que,
quando acontecem, deixam a gente aborrecidíssimo, mas depois,
narrados aos amigos num jantar, passam a ter sabor de anedota.
05 Uma vez me contaram de um cidadão que foi assaltado em sua
casa. Até aí, nada demais. Tem gente que é assaltada na rua, no
ônibus, no escritório, até dentro de igrejas e hospitais, mas muitos
o são na própria casa. O que não diminui o desconforto da situação.
Pois lá estava o dito-cujo em sua casa, mas vestido em roupa de
10trabalho, pois resolvera dar uma pintura na garagem e na cozinha.
As crianças haviam saído com a mulher para fazer compras e o
marido se entregava a essa terapêutica atividade, quando, da
garagem, vê adentrar pelo jardim dois indivíduos suspeitos.
Mal teve tempo de tomar uma atitude e já ouvia:
15— É um assalto, fica quieto senão leva chumbo.
Ele já se preparava para toda sorte de tragédias quando um dos
ladrões pergunta:
— Cadê o patrão?
Num rasgo de criatividade, respondeu:
20— Saiu, foi com a família ao mercado, mas já volta.
— Então vamos lá dentro, mostre tudo.
Fingindo-se, então, de empregado de si mesmo, e ao mesmo tempo
para livrar sua cara, começou a dizer:
— Se quiserem levar, podem levar tudo, estou me lixando, não gosto desse patrão.
25Paga mal, é um pão-duro. Por que não levam aquele rádio ali?
Olha, se eu fosse vocês levava aquele som também. Na cozinha tem
uma batedeira ótima da patroa. Não querem uns discos? Dinheiro
não tem, pois ouvi dizerem que botam tudo no banco, mas ali dentro
do armário tem uma porção de caixas de bombons, que o patrão é
30tarado por bombom.
Os ladrões recolheram tudo o que o falso empregado indicou e
saíram apressados.
Daí a pouco chegavam a mulher e os filhos.
Sentado na sala, o marido ria, ria, tanto nervoso quanto aliviado do
35próprio assalto que ajudara a fazer contra si mesmo.
SANTANNA, Affonso Romano. Porta de Colégio e Outras Crônicas.
São Paulo: Ática 1995. (Coleção Para Gostar de Ler).

No trecho “e o marido se entregava a essa terapêutica atividade” (l. 18-19), a expressão destacada substitui
(A) fazer compras.
(B) ir ao mercado.
(C) narrar anedotas.
(D) pintar a casa.

Análise
A resposta a este item exige o reconhecimento dos elementos que dão coesão ao texto. Dessa forma, identificam-se quais palavras estão sendo substituídas, principalmente para evitar repetições e facilitar a continuidade dele. O autor lançou mão da expressão “essa terapêutica atividade” para substituir outra e retomar uma ideia já citada: “uma pintura na garagem e na cozinha”.

Orientações
Há uma estreita ligação entre o princípio da coesão e a compreensão do texto. Muitas vezes, o aluno não compreende o que lê por não operar bem com as relações de coesão. Por isso, é muito importante propor atividades em que ele tenha que localizar os processos de coesão: pronomes demonstrativos e relativos, advérbios e expressões adverbiais e sinônimos que aparecem para substituir algumas expressões do texto, entre outros.

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