Assaltos insólitos
| Assalto não tem graça nenhuma, mas alguns, contados depois, |
| até que são engraçados. É igual a certos incidentes de viagem, que, |
| quando acontecem, deixam a gente aborrecidíssimo, mas depois, |
| narrados aos amigos num jantar, passam a ter sabor de anedota. |
| 05 | Uma vez me contaram de um cidadão que foi assaltado em sua |
| casa. Até aí, nada demais. Tem gente que é assaltada na rua, no |
| ônibus, no escritório, até dentro de igrejas e hospitais, mas muitos |
| o são na própria casa. O que não diminui o desconforto da situação. |
| Pois lá estava o dito-cujo em sua casa, mas vestido em roupa de |
| 10 | trabalho, pois resolvera dar uma pintura na garagem e na cozinha. |
| As crianças haviam saído com a mulher para fazer compras e o |
| marido se entregava a essa terapêutica atividade, quando, da |
| garagem, vê adentrar pelo jardim dois indivíduos suspeitos. |
| Mal teve tempo de tomar uma atitude e já ouvia: |
| 15 | — É um assalto, fica quieto senão leva chumbo. |
| Ele já se preparava para toda sorte de tragédias quando um dos |
| Num rasgo de criatividade, respondeu: |
| 20 | — Saiu, foi com a família ao mercado, mas já volta. |
| — Então vamos lá dentro, mostre tudo. |
| Fingindo-se, então, de empregado de si mesmo, e ao mesmo tempo |
| para livrar sua cara, começou a dizer: |
| — Se quiserem levar, podem levar tudo, estou me lixando, não gosto desse patrão. |
| 25 | Paga mal, é um pão-duro. Por que não levam aquele rádio ali? |
| Olha, se eu fosse vocês levava aquele som também. Na cozinha tem |
| uma batedeira ótima da patroa. Não querem uns discos? Dinheiro |
| não tem, pois ouvi dizerem que botam tudo no banco, mas ali dentro |
| do armário tem uma porção de caixas de bombons, que o patrão é |
| 30 | tarado por bombom. |
| Os ladrões recolheram tudo o que o falso empregado indicou e |
| Daí a pouco chegavam a mulher e os filhos. |
| Sentado na sala, o marido ria, ria, tanto nervoso quanto aliviado do |
| 35 | próprio assalto que ajudara a fazer contra si mesmo. |
SANTANNA, Affonso Romano. Porta de Colégio e Outras Crônicas.
São Paulo: Ática 1995. (Coleção Para Gostar de Ler).
No trecho “e o marido se entregava a essa terapêutica atividade” (l. 18-19), a expressão destacada substitui
(A) fazer compras.
(B) ir ao mercado.
(C) narrar anedotas.
(D) pintar a casa.
Análise
A
resposta a este item exige o reconhecimento dos elementos que dão
coesão ao texto. Dessa forma, identificam-se quais palavras estão sendo
substituídas, principalmente para evitar repetições e facilitar a
continuidade dele. O autor lançou mão da expressão “essa terapêutica
atividade” para substituir outra e retomar uma ideia já citada: “uma pintura na garagem e na cozinha”.
Orientações
Há
uma estreita ligação entre o princípio da coesão e a compreensão do
texto. Muitas vezes, o aluno não compreende o que lê por não operar bem
com as relações de coesão. Por isso, é muito importante propor
atividades em que ele tenha que localizar os processos de coesão:
pronomes demonstrativos e relativos, advérbios e expressões adverbiais e
sinônimos que aparecem para substituir algumas expressões do texto,
entre outros.
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