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sábado, 22 de março de 2014

O ESTUDO DIMINUI A VIOLÊNCIA?


sociedade
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12/08/2008 - 16:45 - Atualizado em 27/05/2009 - 20:07
Mais diplomas, menos crimes
Investir na escolaridade ajuda a reduzir as estatísticas de violência, revelam novas pesquisas feitas no Brasil e nos Estados Unidos
Solange Azevedo
EXEMPLO
Alunos da Escola Estadual Dr. Fusco, num dos 19 distritos mais pobres de São Paulo.
Com mais estudantes, caiu a taxa de homicídios na capital
Há dois anos, quando assumiu a direção da Escola Estadual Dr. Francisco Brasiliense Fusco, a educadora Rosângela Macedo Moura encontrou uma situação desoladora. A escola, que fica em Campo Limpo, um dos 19 distritos mais pobres de São Paulo, havia sido depredada 57 vezes em um ano. No mesmo período, quase 10% dos alunos haviam abandonado seus cursos. Disposta a mudar esse cenário, Rosângela montou um projeto enumerando tudo o que seria preciso para melhorar a escola e o encaminhou para uma porção de empresários. Um deles, o marqueteiro baiano Nizan Guanaes, se animou com a iniciativa da diretora e convenceu um grupo de agências de publicidade e comunicação a patrocinar as reformas.
Com o investimento privado, o espaço foi revitalizado. Ganhou salas de informática e música, além de uma biblioteca. Os resultados da parceria surgiram em pouco mais de um ano. Desde maio de 2006, o número de alunos cresceu um terço e a evasão caiu para 7%. As depredações despencaram para apenas seis em um ano. Para a aluna Viviane Silva Valentim, de 15 anos, o colégio do bairro de Campo Limpo “era muito feio” até ser reformado. Agora, Viviane diz que está mais motivada a estudar. “Os professores também mudaram a forma de dar aulas, agora cobram bastante da gente.”
Ao atrair mais alunos e evitar que muitos desistam de estudar, a escola de Campo Limpo está ajudando a reduzir as taxas de criminalidade da capital paulista. O distrito está entre os que tiveram os maiores aumentos no índice de jovens que freqüentavam o ensino médio na capital paulista entre 2000 e 2005 – e também está entre os que registraram as maiores diminuições das taxas de assassinatos. A correlação entre queda de homicídios e aumento da escolaridade é uma das conclusões do primeiro Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, organização não-governamental que reúne especialistas de todo o país, lançado há duas semanas. “De todas as variáveis socioeconômicas testadas, a freqüência à escola foi a que mostrou maior correlação com as taxas de homicídios”, diz Renato Sérgio de Lima, coordenador científico do Fórum. Ele afirma que a escolaridade tem mais peso sobre o índice de assassinatos que outros indicadores, incluindo o gasto per capita com segurança pública e a desigualdade social. “Embora em termos estatísticos essa correlação seja baixa, a educação exerce um papel importante na prevenção de homicídios.”
(1) Taxas por 100 mil habitantes refentes à média para os triênios
Fonte: Fundação Seade

Há três semanas, foi lançado pelo Justice Policy Institute (Instituto de Política s da Justiça), sediado em Washington, nos Estados Unidos, uma síntese de estudos que ratificam as conclusões do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Segundo os especialistas, os Estados americanos que têm as mais baixas taxas de crimes violentos e de encarceramento são exatamente aqueles que mais investem em educação, especialmente no ensino secundário. Em Minnesota, o Estado mais escolarizado dos EUA, a proporção de delitos violentos é 37% inferior à média do país. O instituto afirma que os homicídios e as lesões corporais graves poderiam recuar quase 30% nos Estados Unidos caso a média de tempo de estudo da população aumentasse em apenas um ano. Ainda segundo o estudo, a falta do ensino médio dobra a probabilidade de um indivíduo ser preso por crimes violentos.
MOTIVAÇÃO
Para Viviane Valentim, de 15 anos, a escola mais bonita torna os alunos mais interessados. As depredações caíram de 57 para seis por ano
No Brasil, pesquisas desse tipo revelam que, além de a educação reduzir a probabilidade de uma pessoa matar, também diminui o risco de ela ser vítima de assassinato. “O peso da educação nas taxas de homicídios é avassalador”, afirma Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Soares é autor do estudo Educação: um Escudo contra o Homicídio?, lançado no fim de agosto. “Um homem com idade entre 18 e 24 anos e até três anos de estudo tem uma probabilidade de ser assassinado da ordem de 250 para cada 100 mil. Para os que têm o ensino médio completo, ela é de 25 em 100 mil.”
Jovens do sexo masculino sempre foram as maiores vítimas de homicídio. São eles também os que mais cometem esse tipo de crime. Nessa fase da vida, a probabilidade de as pessoas adotarem comportamentos de risco é maior – e a educação funciona como uma espécie de antídoto. Psicólogos americanos dizem que o ensino médio é um marco importante na transição entre a juventude e a vida adulta. A passagem tranqüila por esse período pode determinar o sucesso ou o fracasso na entrada no mercado de trabalho e na possibilidade de casar e ter filhos. Quem permanece na escola também tende a resolver conflitos interpessoais de forma pacífica. No colégio, os alunos são obrigados a seguir regras mínimas de convivência e podem ter mais facilidade de absorver valores de civilidade. Com isso, a probabilidade de eles matarem, ou morrerem, diminui.
A Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) apresentou em maio o estudo Evolução do Índice de Vulnerabilidade Juvenil, com novos indícios de como a escolaridade pode ajudar a conter os homicídios. O índice é baseado em dados como a exposição dos jovens à violência urbana, o nível educacional e a gravidez na adolescência na cidade de São Paulo. O estudo revelou que o acesso ao ensino médio cresceu mais nas áreas pobres. Em 2000, 47,2% dos jovens de 15 a 17 anos que moravam nos 19 distritos mais pobres da capital paulista freqüentavam o ensino médio. Em 2005, o índice saltou para 62,5%. Nas áreas ricas da cidade, o crescimento foi menor: 10 pontos porcentuais. As regiões onde mais cresceu a proporção de estudantes são as mesmas que registraram as maiores quedas das taxas de assassinatos de jovens do sexo masculino. “Só o fato de mantermos as crianças e, principalmente, os adolescentes na escola já contribui para a prevenção dos homicídios”, diz a socióloga Felícia Madeira, diretora-executiva da Seade. “Se quisermos enfrentar a criminalidade, temos de começar pela democratização do ensino médio.”
A lição dos americanos
Como a escolaridade da população afeta a segurança nos Estados Unidos
Nos dez Estados com maior proporção de estudantes universitários, as taxas de crimes violentos são 40% menores que a média nacional
As taxas de crimes violentos são inferiores à média nacional em nove dos dez Estados americanos com as maiores proporções de moradores que concluíram o ensino médio
Em Minnesota, o Estado mais escolarizado, a taxa de crimes violentos é 37% inferior à média do país
No Texas, o Estado menos escolarizado, a taxa de crimes violentos é 13% superior à média
US$ 7,7 bilhões ao ano seria a redução dos custos da violência caso a proporção de homens com diploma secundário crescesse 5%
Fonte: Justice Policy Institute

A ocorrência de homicídios no Estado de São Paulo caiu 60% nos últimos sete anos. Foi a maior queda registrada no país. Ela resultou de vários fatores. O orçamento da segurança pública, que inclui os gastos com os presos, saltou de R$ 6,6 bilhões em 2000 para R$ 9,3 bilhões em 2007. Além de destinar mais dinheiro para combater a violência, o governo paulista aumentou o efetivo de policiais militares nas ruas, ao contratar funcionários para atuar na guarda dos presídios e soldados temporários para os serviços internos. Junto com as ações em segurança, houve maior investimento em educação, área que tem o maior orçamento no Estado. “Em São Paulo, o acesso ao ensino médio foi maior que em outros Estados e a proporção de jovens também caiu mais que em outros lugares”, diz Felícia, da Fundação Seade. De acordo com a socióloga, o acesso à educação secundária cresceu em parte graças à implantação da progressão continuada no ensino fundamental. Nesse sistema, a reprovação é substituída por avaliações freqüentes em diversas atividades, como participação em sala de aula, trabalhos e provas. A idéia é que o processo de transmissão de conhecimentos seja adaptado às fases de desenvolvimento das crianças. O sistema ajuda a evitar a evasão escolar, mas sozinho não garante que os alunos permaneçam motivados. “Para que os jovens se mantenham na escola, é necessário também que eles tenham condições socioeconômicas”, afirma o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz.
Uma solução para atrair e reter estudantes pode estar em exemplos como o da Escola Estadual Dr. Francisco Brasiliense Fusco. Investir em educação não é apenas uma questão de justiça social. É, sobretudo, inteligência. No Brasil, o custo anual para manter um aluno no ensino médio é de R$ 939. O de um preso é, em média, R$ 12 mil. Saber o que vale mais a pena não é uma conta difícil.




Fotos: André Sarmento/Ag. NaLata/ÉPOCA, Dennis MacDonald/Keystone e Robert Barker/AP



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