Si o senhor não "tá" lembrado
Dá licença de "contá"
Que aqui onde agora está
Esse "edifício arto"
Era uma casa véia
Um palacete assombradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímo nossa maloca
Mais, um dia
Nóis nem pode se alembrá
Veio os homi c'as ferramentas
O dono mandô derrubá
Peguemo todas nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Aprecia a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homis tá cá razão
Nós arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertor"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Saudosa maloca,maloca querida,
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.
Dá licença de "contá"
Que aqui onde agora está
Esse "edifício arto"
Era uma casa véia
Um palacete assombradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímo nossa maloca
Mais, um dia
Nóis nem pode se alembrá
Veio os homi c'as ferramentas
O dono mandô derrubá
Peguemo todas nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Aprecia a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homis tá cá razão
Nós arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertor"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Saudosa maloca,maloca querida,
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.
Maloca
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Maloca é um tipo de cabana comunitária utilizada pelos nativos da região amazônica, notadamente na Colômbia e Brasil. Cada tribo tinha sua própria espécie de maloca, com características únicas que ajudavam a distinguir um povo do outro.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.[editar] Ligações externas
- La Maloca de los Sabedores de Oscar Freire
Canção
é (I) uma forma musical para diversos estilos de composições ou, (II)
uma composição musical acompanhada de um texto poético destinado ao
canto com acompanhamento ou sem; ou, (III) uma composição musical
instrumental curta composta com a Forma Canção.
É importante realçar que vários estilos de composições são mencionados pelo mesmo nome, canção, até mesmo quando sua Forma não é canção.
Nos EUA, a Forma é estudada academicamente pelo nome, em Inglês, Song Form ("Forma Canção," em Português).
Não importa a língua, chansons, em Francês, canzoni, em Italiano, Lieder, em Alemão, a forma prevalece sempre a mesma.
A Forma Canção segue o seguinte diagrama:
Nas canções eruditas a Forma pode se apresentar como "A B A."
Nas canções mais populares e atuais, frequentemente o "B" final se repete múltiplas vezes.
"A" sendo os versos musicais;
"B" sendo os estribilhos, refrões, pontes, bridge ou qualquer outro nome do gênero.
Pode-se interpretar o "B" como estribilho e um "C" como refrão. Muitas músicas pop dos anos 1960 foram escritas assim. O conjunto "The Beatles" tipicamente cantam nesta Forma em várias composições de Lennon-McCartney.
Franz Schubert, compositor austríaco, que explorou esta forma, tem centenas de canções. Ele não só compôs canções individuais, mas também ciclos de canções, um grupo de canções escritas para serem executadas todas juntas.
AAB | AAB |CB…
"C" sendo um verso musical diferente, adicionado para criar tensão, antecipando o "B" final ou, ainda,
B | AAB | AAB | B..... "B", o refrão, surge antes do primeiro verso, logo no início.
Algumas canções se apresentam bem rapidamente com motivos marcantes---a não repetição é essencial para não haver redundância. O verso é apresentado, as vezes sem introdução, se repete, e a canção vai direto para o estribilho final. Diversos cânticos de Bach, conhecido como "Versus" ou Árias de Cantatas foram escrito da Forma Canção curta, "AAB coda", sendo o "coda" o Aleluia final se estendendo melismaticamente na última frase da canção.
A canção, tradicionalmente na História, era escrita para musicar um texto poético.[1] Mas já nos Século XX ela passou, mais e mais, a musicar textos comuns conhecidos simplesmente por "letra" (lyrics, em Inglês). A composição canção também podem ser sem letra, recebendo o nome de canção instrumental.
Nota-se alguns estilos de composição que ouvimos referência ao termo "canção," mesmo se a Forma da composição for outra.
É importante realçar que vários estilos de composições são mencionados pelo mesmo nome, canção, até mesmo quando sua Forma não é canção.
Índice[esconder] |
[editar] A Forma Canção
A Forma Canção é simples e popular e uma das mais antigas. Ela é comum popularmente em diversas melodias curtas instrumentais ou cantadas.Nos EUA, a Forma é estudada academicamente pelo nome, em Inglês, Song Form ("Forma Canção," em Português).
Não importa a língua, chansons, em Francês, canzoni, em Italiano, Lieder, em Alemão, a forma prevalece sempre a mesma.
A Forma Canção segue o seguinte diagrama:
[editar] A Forma típica
A A B | A A B | AB…Nas canções eruditas a Forma pode se apresentar como "A B A."
Nas canções mais populares e atuais, frequentemente o "B" final se repete múltiplas vezes.
"A" sendo os versos musicais;
"B" sendo os estribilhos, refrões, pontes, bridge ou qualquer outro nome do gênero.
Pode-se interpretar o "B" como estribilho e um "C" como refrão. Muitas músicas pop dos anos 1960 foram escritas assim. O conjunto "The Beatles" tipicamente cantam nesta Forma em várias composições de Lennon-McCartney.
Franz Schubert, compositor austríaco, que explorou esta forma, tem centenas de canções. Ele não só compôs canções individuais, mas também ciclos de canções, um grupo de canções escritas para serem executadas todas juntas.
[editar] Variações da Forma
Pode-se haver leves variações:AAB | AAB |CB…
"C" sendo um verso musical diferente, adicionado para criar tensão, antecipando o "B" final ou, ainda,
B | AAB | AAB | B..... "B", o refrão, surge antes do primeiro verso, logo no início.
[editar] A Forma abreviada (curta)
"AAB A," ou "AAB coda"Algumas canções se apresentam bem rapidamente com motivos marcantes---a não repetição é essencial para não haver redundância. O verso é apresentado, as vezes sem introdução, se repete, e a canção vai direto para o estribilho final. Diversos cânticos de Bach, conhecido como "Versus" ou Árias de Cantatas foram escrito da Forma Canção curta, "AAB coda", sendo o "coda" o Aleluia final se estendendo melismaticamente na última frase da canção.
[editar] Ornamentações da Forma
- As músicas na Forma canção em geral podem ser instrumentais mas, tradicionalmente, a maioria delas contém um texto para o cantor, e os instrumentos por sua vez acompanham a voz do cantor.
- Coda, pequeno trecho melódico que estende a última frase do verso variando o final da música; este uso é comum quando posto na cadência final da música de qualquer Forma, não só da Forma canção
[editar] Canção com texto ou instrumental
A Canção (composição musical, não a Forma musical) frequentemente também se encontra na Forma Canção, mas pode se encontrar também na Forma binária ou ternária. Dificilmente encontraremos canções escritas nas Formas complexas da música erudita como, Sonata-Allegro, ou Rondo, mas nada impede que isto aconteça.A canção, tradicionalmente na História, era escrita para musicar um texto poético.[1] Mas já nos Século XX ela passou, mais e mais, a musicar textos comuns conhecidos simplesmente por "letra" (lyrics, em Inglês). A composição canção também podem ser sem letra, recebendo o nome de canção instrumental.
[editar] Outros Moldes da Canção
A palavra canção se tornou um tipo "ícone" usada a toda hora popularmente quando se referindo a uma variedade de pequenas composições curtas ou com arranjos populares, especialmente quando usando instrumentos modernos, não de orquestra ou de música de câmara ou, ainda até mesmo, se a composição não se encontra num dos moldes descritos acima.Nota-se alguns estilos de composição que ouvimos referência ao termo "canção," mesmo se a Forma da composição for outra.
- Ária - 1) composição para uma voz; 2) cantiga, melodia ou, 3) parte que exprimi o sentimento inspirado pelo assunto da cantata.
- Balada - frequentemente composta na Forma canção, típica música popular do Século XX, Nos EUA ballad refere-se a música pop.
- Chanson - "canção," em Francês, folclórica ou popular, que deu origem a Forma canção na música erudita na Era Romântica.
- Mélodie - Gênero musical francês de canção erudita, similar ao Lied alemão, ou ao Art Song inglês.
- Cântico - sinônimo para hino litúrgico (O gênero, Ária, de Bach muito freqüentemente composto na Forma Canção abreviada); em louvor da divindade---freqüentemente com texto bíblico poético.
- Canção folclórica a Forma "canção" mais antiga entre outras. Hoje seria chamada de Forma Estrófica representada por "A A A A" aonde "A" é o verso que se repete.
- Jingle (Inglês) melodia curta usada em comerciais.
- Lamento Um episódio nas óperas dos séculos XVII e XVIII, para canto ou recitativo---antes do desfecho.
- Lied Canção em alemão
- Canção de ninar ou cantiga - versos pequenos cantado e dividido em estrofes—Forma Estrófica (A A1 A2…).
- Cantiga de amor - estilo poético do trovador, originado em Portugal, Século XII ao XIV---do amante à amada.
- Canção popular normalmente em Forma Canção.
- O melhor termo para uso com referência à música clássica é a palavra "melodia" para designar uma frase musical ou estilos musicais como "aria" (italiano) ou "Lied" (alemão).
- Quando uma canção cantada não é acompanhada por nenhum instrumento musical (ou gravação de sons de instrumentos) é denominada "canção à capela" (ou "a capella").
- Canção de gesta - Um poema épico, no século XI e XII, cantado.
- Canção polifônica - composição a várias vozes com um texto secular.
- Art Song (do Inglês, "Canção de Arte," ou como é mais conhecida no Brasil, "Canção Artística,") normalmente escrita para voz e piano, texto lírico e poético, para ser apresentada num recital separadamente. Schubert escreveu umas 600 desta composições.
[editar] Trivia
- Um Cântico é um texto cantado em espírito de louvor; sinônimo de hino (litúrgico), frequentemente em Forma Estrófica e não é uma canção
- "Cansão" (pronuncia-se, "canção," no Brasil), diz-se de um cavalo que se cansa facilmente.
Referências
- ↑ [Ver as Canções de Schubert para uns ótimos exemplos.]
Categoria:
João Rubinato,[1] (Valinhos, 6 de agosto de 1912 — São Paulo, 23 de novembro de 1982), mais conhecido como Adoniran Barbosa, foi um compositor, cantor, humorista e ator brasileiro. Rubinato representava em programas de rádio diversos personagens, entre os quais, Adoniran Barbosa,
o qual acabou por se confundir com seu criador dada a sua popularidade
frente aos demais. Adoniran ficou conhecido nacionalmente como o pai
do samba paulista.
Abandonou a escola cedo, pois não gostava de estudar. Necessitava trabalhar para ajudar a família numerosa - Adoniran tinha sete irmãos. Procurando resolver seus problemas financeiros, os Rubinato viviam mudando de cidade. Moravam primeiro em Valinhos, depois Jundiaí, Santo André e finalmente São Paulo.
Em Jundiaí, Adoniran conhece seu primeiro ofício: entregador de marmitas. Aos quatorze anos, ainda criança, o encontramos rodando pelas ruas da cidade e, legitimamente, surrupiando alguns bolinhos pelo caminho. "A matemática da vida lhe dá o que a escola deixou de ensinar: uma lógica irrefutável. Se havia fome e, na marmita oito bolinhos, dois lhe saciariam a fome e seis a dos clientes; se quatro, um a três; se dois, um a um".
O compositor e cantor tem um longo aprendizado, num arco que vai do marmiteiro às frustrações causadas pela rejeição de seu talento. Quer ser artista – escolhe a carreira de ator. Procura de várias maneiras fazer seu sonho acontecer. Tenta, antes do advento do rádio, o palco, mas é sempre rejeitado. Sem padrinhos e sem instrução adequada, o ingresso nos teatros como ator lhe é para sempre abortado. O samba, no início da carreira, tem para ele caráter acidental. Escolado pela vida, sabia que o estrelato e o bom sucesso econômico só seriam alcançados na veiculação de seu nome na caixa de ressonância popular que era o rádio.
O magistral período das rádios, também no Brasil, criou diversas modas, mexeu com os costumes, inventou a participação popular – no mais das vezes, dirigida e didática. Têm elas um poder e extensão pouco comuns para um país rural como o nosso. Inventam a cidade, popularizam o emprego industrial e acendem os desejos de migração interna e de fama. Enfim, no país dos bacharéis, médicos e párocos de aldeia, a ascensão social busca outros caminhos e pode-se já sonhar com a meteórica carreira de sucesso que as rádios produzem. Três caminhos podem ser trilhados: o de ator, o de cantor ou o de locutor.
Adoniran, aprendiz das ruas, percebe as possibilidades que se abrem a seu talento. Quer ser ator, popularizar seu nome e ganhar algum dinheiro, mas a rejeição anterior o leva a outros caminhos. Sua inclinação natural no mundo da música é a composição mas, nesse momento, o compositor é um mero instrumento de trabalho para os cantores, que compram a parceria e, com ela, fazem nome e dinheiro. Daí sua escolha recair não sobre a composição, mas sobre a interpretação.
Entrega-se ao mundo da música. Busca conquistar seu espaço como cantor – tem boa voz, poderia tentar os diversos programas de calouro. Já com o nome de Adoniran Barbosa – tomado emprestado a um companheiro de boêmia e de Luiz Barbosa, cantor de sambas, que admira – João Rubinato estreia cantando um samba brejeiro de Ismael Silva e Nilton Bastos, o Se você jurar. É gongado, mas insiste e volta novamente ao mesmo programa; agora cantando o belo samba de Noel Rosa, Filosofia, que lhe abre as portas das rádios e ao mesmo tempo serve como mote para suas composições futuras.
A vida profissional de Adoniran Barbosa se desenvolve a partir das interpretações de outros compositores. Embora a composição não o atraia muito, a primeira a ser gravada é Dona Boa, na voz de Raul Torres. Depois grava em disco Agora pode chorar, que não faz sucesso algum. Aos poucos se entrega ao papel de ator radiofônico; a criação de diversos tipos populares e a interpretação que deles faz, em programas escritos por Osvaldo Moles, fazem do sambista um homem de relativo sucesso. Embora impagáveis, esses programas não conseguem segurar por muito tempo ainda o compositor que teima em aparecer em Adoniran. Entretanto, é a partir desses programas que o grande sambista encontra a medida exata de seu talento, em que a soma das experiências vividas e da observação acurada dá ao país um dos seus maiores e mais sensíveis intérpretes.
O mergulho que o sambista fará na linguagem, suas construções linguísticas, pontuadas pela escolha exata do ritmo da fala paulistana, irão na contramão da própria história do samba. Os sambistas sempre procuraram dignificar sua arte com um tom sublime, o emprego da segunda pessoa, o tom elevado das letras, que sublimavam a origem miserável da maioria, e funcionavam como a busca da inserção social. Tudo era uma necessidade urgente, pois as oportunidades de ascensão social eram nenhumas e o conceito da malandragem vigia de modo coercitivo. Assim, movidos pelos mesmos desejos que tinha Adoniran de se tornar intérprete e não compositor, e a partir daí conhecido, os compositores de samba, entre uma parceria vendida aqui e outra ali, davam o testemunho da importância que a linguagem assumia como veículo social.
Mas a escolha de Adoniran é outra, seu mergulho também outro. Aproveitando-se da linguagem popular paulistana – de resto do próprio país – as músicas dele são o retrato exato desta linguagem e, como a linguagem determina o próprio discurso, os tipos humanos que surgem deste discurso representam um dos painéis mais importantes da cidadania brasileira. Os despejados das favelas, os engraxates, a mulher submissa que se revolta e abandona a casa, o homem solitário, social e existencialmente solitário, estão intactos nas criações de Adoniran, no humor com que descreve as cenas do cotidiano. A tragédia da exclusão social dos sambistas se revela como a tragicômica cena de um país que subtrai de seus cidadãos a dignidade.
O seu primeiro sucesso como compositor vira canção obrigatória das rodas de samba, das casas de show: Trem das Onze. É bem possível que todo brasileiro conheça, senão a música inteira, ao menos o estribilho, que se torna intemporal. Adoniran alcança, então, o almejado sucesso que, entretanto, dura pouco e não lhe rende mais que uns minguados trocados de direitos autorais. A música, que já havia sido gravada pelo autor em 1951 e não fizera sucesso ainda, é regravada novamente pelos “Demônios da Garoa”, conjunto musical de São Paulo (esta cidade é conhecida como a terra da garoa, da neblina, daí o nome do grupo). Embora o conjunto seja paulista, a música acontece primeiramente no Rio de Janeiro. E aí sim, o sucesso é retumbante.
Arguto observador das atividades humanas, sabe também que o público não se contenta apenas com o drama das pessoas desvalidas e solitárias; é necessário que se dê a este público uma dose de humor, mesmo que amargo. Compõe para esse público um dos seus sambas mais notáveis, um dos primeiros em que trabalhou a nova estética do samba.
Entre a tentativa de carreira nas rádios paulistas e o primeiro sucesso, Adoniran trabalha duro, casa-se duas vezes e frequenta, como boêmio, a noite. Nas idas e vindas de sua carreira tem de vencer várias dificuldades. O trabalho nas rádios brasileiras é pouco reconhecido e financeiramente instável, muitos passaram anos nos seus corredores e tiveram um fim de vida melancólico e miserável. O veículo que encanta multidões, que faz de várias pessoas ídolos é também cruel como a vida; passado o sucesso que, para muitos, é apenas nominal, o ostracismo e a ausência de amparo legal levam cantores, compositores e atores a uma situação de impensável penúria.
Adoniran sabe disto, mas mesmo assim seu desejo cala mais fundo. O primeiro casamento não dura um ano; o segundo, a vida toda: Matilde. De grande importância na vida do sambista, Matilde sabe com quem convive e não só prestigia sua carreira como o incentiva a ser quem é e como é, boêmio, incerto e em constante dificuldade. Trabalha também fora e ajuda o sambista nos momentos difíceis, que são constantes. Adoniran vive para o rádio, para a boêmia e para Matilde.
Numa de suas noitadas, de fogo, perde a chave de casa e não há outro jeito senão acordar Matilde, que se aborrece. O dia seguinte foi repleto de discussão. Mas Adoniran é compositor e dando por encerrado o episódio, compõe o samba Joga a chave.
Dono de um repertório variado de histórias, o sambista não perdia a vez de uma boa blague. Certa vez, quando trabalhava na rádio Record, onde ficou por mais de trinta anos, resolveu, após muito tempo ali, pedir um aumento. O responsável pela gravadora disse-lhe que iria estudar o aumento e que Adoniran voltasse em uma semana para saber dos resultados do estudo... quando voltou, obteve a resposta de que seu caso estava sendo estudado. As interpelações e respostas, sempre as mesmas, duraram algumas semanas... Adoniran começava se irritar e, na última entrevista, saiu-se com esta: “Tá certo, o senhor continue estudando e quando chegar a época da sua formatura me avise..”
Nos últimos anos de vida, com o enfisema avançando, e a impossibilidade de sair de casa pela noite, o sambista dedica-se a recriar alguns dos espaços mágicos que percorreu na vida. Grava algumas músicas ainda, mas com dificuldade – a respiração e o cansaço não lhe permitem muita coisa mais – dá depoimentos importantes, reavaliando sua trajetória artística. Compõe pouco.
Mas inventa para si uma pequena arte, com pedaços velhos de lata, de madeira, movidos a eletricidade. São rodas-gigante, trens de ferro, carrosséis. Vários e pequenos objetos da ourivesaria popular – enfeites, cigarreiras, bibelôs... Fiel até o fim à sua escolha, às observações que colhe do cotidiano, cria um mundo mágico. Quando recebe alguma visita em casa, que se admira com os objetos criados pelo sambista, ouve dele que “alguns chamavam aquilo de higiene mental, mas que não passava de higiene de débil mental...” Como se vê, cultiva o humor como marca registrada. Marca aliás, que aliada à observação da linguagem e dos fatos trágicos do cotidiano, faz dele um sambista tradicional e inovador.
Adoniran Barbosa morre em 1982, aos 72 anos de idade.
Adoniran Barbosa
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Adoniran Barbosa | |
---|---|
Adoniran Barbosa na plataforma da estação do Jaçanã, na época da sua desativação (1965). | |
Informação geral | |
Nome completo | João Rubinato |
Apelido | Adoniran Barbosa |
Nascimento | 6 de agosto de 1912 |
Origem | Valinhos |
País | Brasil |
Data de morte | 23 de novembro de 1982 (72 anos), em São Paulo |
Gêneros | Samba |
Instrumentos | Vocal |
Página oficial | Adoniran Barbosa.com.br |
Índice[esconder] |
[editar] Biografia
Rubinato era filho de Ferdinando e Emma Rubinato, imigrantes italianos da localidade de Cavárzere, província de Veneza. Aos dez anos de idade, sua certidão de nascimento foi adulterada para que o ano de nascimento constasse como 1910 possibilitando que ele trabalhasse de forma legalizada: à época a idade mínima para poder trabalhar era de doze anos.Abandonou a escola cedo, pois não gostava de estudar. Necessitava trabalhar para ajudar a família numerosa - Adoniran tinha sete irmãos. Procurando resolver seus problemas financeiros, os Rubinato viviam mudando de cidade. Moravam primeiro em Valinhos, depois Jundiaí, Santo André e finalmente São Paulo.
Em Jundiaí, Adoniran conhece seu primeiro ofício: entregador de marmitas. Aos quatorze anos, ainda criança, o encontramos rodando pelas ruas da cidade e, legitimamente, surrupiando alguns bolinhos pelo caminho. "A matemática da vida lhe dá o que a escola deixou de ensinar: uma lógica irrefutável. Se havia fome e, na marmita oito bolinhos, dois lhe saciariam a fome e seis a dos clientes; se quatro, um a três; se dois, um a um".
O compositor e cantor tem um longo aprendizado, num arco que vai do marmiteiro às frustrações causadas pela rejeição de seu talento. Quer ser artista – escolhe a carreira de ator. Procura de várias maneiras fazer seu sonho acontecer. Tenta, antes do advento do rádio, o palco, mas é sempre rejeitado. Sem padrinhos e sem instrução adequada, o ingresso nos teatros como ator lhe é para sempre abortado. O samba, no início da carreira, tem para ele caráter acidental. Escolado pela vida, sabia que o estrelato e o bom sucesso econômico só seriam alcançados na veiculação de seu nome na caixa de ressonância popular que era o rádio.
O magistral período das rádios, também no Brasil, criou diversas modas, mexeu com os costumes, inventou a participação popular – no mais das vezes, dirigida e didática. Têm elas um poder e extensão pouco comuns para um país rural como o nosso. Inventam a cidade, popularizam o emprego industrial e acendem os desejos de migração interna e de fama. Enfim, no país dos bacharéis, médicos e párocos de aldeia, a ascensão social busca outros caminhos e pode-se já sonhar com a meteórica carreira de sucesso que as rádios produzem. Três caminhos podem ser trilhados: o de ator, o de cantor ou o de locutor.
Adoniran, aprendiz das ruas, percebe as possibilidades que se abrem a seu talento. Quer ser ator, popularizar seu nome e ganhar algum dinheiro, mas a rejeição anterior o leva a outros caminhos. Sua inclinação natural no mundo da música é a composição mas, nesse momento, o compositor é um mero instrumento de trabalho para os cantores, que compram a parceria e, com ela, fazem nome e dinheiro. Daí sua escolha recair não sobre a composição, mas sobre a interpretação.
Entrega-se ao mundo da música. Busca conquistar seu espaço como cantor – tem boa voz, poderia tentar os diversos programas de calouro. Já com o nome de Adoniran Barbosa – tomado emprestado a um companheiro de boêmia e de Luiz Barbosa, cantor de sambas, que admira – João Rubinato estreia cantando um samba brejeiro de Ismael Silva e Nilton Bastos, o Se você jurar. É gongado, mas insiste e volta novamente ao mesmo programa; agora cantando o belo samba de Noel Rosa, Filosofia, que lhe abre as portas das rádios e ao mesmo tempo serve como mote para suas composições futuras.
A vida profissional de Adoniran Barbosa se desenvolve a partir das interpretações de outros compositores. Embora a composição não o atraia muito, a primeira a ser gravada é Dona Boa, na voz de Raul Torres. Depois grava em disco Agora pode chorar, que não faz sucesso algum. Aos poucos se entrega ao papel de ator radiofônico; a criação de diversos tipos populares e a interpretação que deles faz, em programas escritos por Osvaldo Moles, fazem do sambista um homem de relativo sucesso. Embora impagáveis, esses programas não conseguem segurar por muito tempo ainda o compositor que teima em aparecer em Adoniran. Entretanto, é a partir desses programas que o grande sambista encontra a medida exata de seu talento, em que a soma das experiências vividas e da observação acurada dá ao país um dos seus maiores e mais sensíveis intérpretes.
O mergulho que o sambista fará na linguagem, suas construções linguísticas, pontuadas pela escolha exata do ritmo da fala paulistana, irão na contramão da própria história do samba. Os sambistas sempre procuraram dignificar sua arte com um tom sublime, o emprego da segunda pessoa, o tom elevado das letras, que sublimavam a origem miserável da maioria, e funcionavam como a busca da inserção social. Tudo era uma necessidade urgente, pois as oportunidades de ascensão social eram nenhumas e o conceito da malandragem vigia de modo coercitivo. Assim, movidos pelos mesmos desejos que tinha Adoniran de se tornar intérprete e não compositor, e a partir daí conhecido, os compositores de samba, entre uma parceria vendida aqui e outra ali, davam o testemunho da importância que a linguagem assumia como veículo social.
Mas a escolha de Adoniran é outra, seu mergulho também outro. Aproveitando-se da linguagem popular paulistana – de resto do próprio país – as músicas dele são o retrato exato desta linguagem e, como a linguagem determina o próprio discurso, os tipos humanos que surgem deste discurso representam um dos painéis mais importantes da cidadania brasileira. Os despejados das favelas, os engraxates, a mulher submissa que se revolta e abandona a casa, o homem solitário, social e existencialmente solitário, estão intactos nas criações de Adoniran, no humor com que descreve as cenas do cotidiano. A tragédia da exclusão social dos sambistas se revela como a tragicômica cena de um país que subtrai de seus cidadãos a dignidade.
O seu primeiro sucesso como compositor vira canção obrigatória das rodas de samba, das casas de show: Trem das Onze. É bem possível que todo brasileiro conheça, senão a música inteira, ao menos o estribilho, que se torna intemporal. Adoniran alcança, então, o almejado sucesso que, entretanto, dura pouco e não lhe rende mais que uns minguados trocados de direitos autorais. A música, que já havia sido gravada pelo autor em 1951 e não fizera sucesso ainda, é regravada novamente pelos “Demônios da Garoa”, conjunto musical de São Paulo (esta cidade é conhecida como a terra da garoa, da neblina, daí o nome do grupo). Embora o conjunto seja paulista, a música acontece primeiramente no Rio de Janeiro. E aí sim, o sucesso é retumbante.
Arguto observador das atividades humanas, sabe também que o público não se contenta apenas com o drama das pessoas desvalidas e solitárias; é necessário que se dê a este público uma dose de humor, mesmo que amargo. Compõe para esse público um dos seus sambas mais notáveis, um dos primeiros em que trabalhou a nova estética do samba.
Entre a tentativa de carreira nas rádios paulistas e o primeiro sucesso, Adoniran trabalha duro, casa-se duas vezes e frequenta, como boêmio, a noite. Nas idas e vindas de sua carreira tem de vencer várias dificuldades. O trabalho nas rádios brasileiras é pouco reconhecido e financeiramente instável, muitos passaram anos nos seus corredores e tiveram um fim de vida melancólico e miserável. O veículo que encanta multidões, que faz de várias pessoas ídolos é também cruel como a vida; passado o sucesso que, para muitos, é apenas nominal, o ostracismo e a ausência de amparo legal levam cantores, compositores e atores a uma situação de impensável penúria.
Adoniran sabe disto, mas mesmo assim seu desejo cala mais fundo. O primeiro casamento não dura um ano; o segundo, a vida toda: Matilde. De grande importância na vida do sambista, Matilde sabe com quem convive e não só prestigia sua carreira como o incentiva a ser quem é e como é, boêmio, incerto e em constante dificuldade. Trabalha também fora e ajuda o sambista nos momentos difíceis, que são constantes. Adoniran vive para o rádio, para a boêmia e para Matilde.
Numa de suas noitadas, de fogo, perde a chave de casa e não há outro jeito senão acordar Matilde, que se aborrece. O dia seguinte foi repleto de discussão. Mas Adoniran é compositor e dando por encerrado o episódio, compõe o samba Joga a chave.
Dono de um repertório variado de histórias, o sambista não perdia a vez de uma boa blague. Certa vez, quando trabalhava na rádio Record, onde ficou por mais de trinta anos, resolveu, após muito tempo ali, pedir um aumento. O responsável pela gravadora disse-lhe que iria estudar o aumento e que Adoniran voltasse em uma semana para saber dos resultados do estudo... quando voltou, obteve a resposta de que seu caso estava sendo estudado. As interpelações e respostas, sempre as mesmas, duraram algumas semanas... Adoniran começava se irritar e, na última entrevista, saiu-se com esta: “Tá certo, o senhor continue estudando e quando chegar a época da sua formatura me avise..”
Nos últimos anos de vida, com o enfisema avançando, e a impossibilidade de sair de casa pela noite, o sambista dedica-se a recriar alguns dos espaços mágicos que percorreu na vida. Grava algumas músicas ainda, mas com dificuldade – a respiração e o cansaço não lhe permitem muita coisa mais – dá depoimentos importantes, reavaliando sua trajetória artística. Compõe pouco.
Mas inventa para si uma pequena arte, com pedaços velhos de lata, de madeira, movidos a eletricidade. São rodas-gigante, trens de ferro, carrosséis. Vários e pequenos objetos da ourivesaria popular – enfeites, cigarreiras, bibelôs... Fiel até o fim à sua escolha, às observações que colhe do cotidiano, cria um mundo mágico. Quando recebe alguma visita em casa, que se admira com os objetos criados pelo sambista, ouve dele que “alguns chamavam aquilo de higiene mental, mas que não passava de higiene de débil mental...” Como se vê, cultiva o humor como marca registrada. Marca aliás, que aliada à observação da linguagem e dos fatos trágicos do cotidiano, faz dele um sambista tradicional e inovador.
Adoniran Barbosa morre em 1982, aos 72 anos de idade.
[editar] Discografia
- 1951 - "Os mimosos colibris/Saudade da maloca" (78 rpm)
- 1952 - "Samba do Arnesto/Conselho de mulher" (78 rpm)
- 1955 - "Saudosa maloca/Samba do Arnesto" (78 rpm)
- 1958 - "Pra que chorar" (78 rpm)
- 1958 - "Pafunça/Nois não os bleque tais" (78 rpm)
- 1972 - "A Música Brasileira Deste Século -Adoniran Barbosa"
- 1974 - "Adoniran Barbosa"
- 1975 - "Adoniran Barbosa"
- 1979 - "Seu Último Show" (Ao Vivo)
- 1980 - "Adoniran Barbosa e Convidados"
- 1984 - "Documento Inédito"
- 2003 - "2 LPs em 1" (Re-lançamento dos LPs de 1974 e 1975)
[editar] Coletâneas
- 1990 - "Claudinha Do céu" (Com interpretes de suas músicas)
- 1996 - "MPB Compositores: Adoniran Barbosa" (Com participações e interpretes de suas músicas)
- 1999 - "Meus Momentos: Adoniran Barbosa"
- 1999 - "Raízes do Samba: Adoniran Barbosa"
- 2001 - "Para Sempre - Adoniran Barbosa"
- 2002 - "Identidade: Adoniran Barbosa"
- 2004 - "O Talento de: Adoniran Barbosa" (Com participações especiais)
[editar] Video
- 1972 - "Programa Ensaio: Adoniran Barbosa"
[editar] Principais Musicas
- Malvina, 1951
- Saudosa maloca, 1951
- Joga a chave, 1952
- Samba do Arnesto, 1953
- As mariposas, 1955
- Iracema, 1956
- Apaga o fogo Mané, 1956
- Bom-dia tristeza, 1958
- Abrigo de vagabundo, 1959
- No morro da Casa Verde, 1959
- Prova de carinho, 1960
- Tiro ao Álvaro, 1960
- Luz da light, 1964
- Trem das Onze, 1964
- Trem das Onze com Demônios da Garoa, 1964
- Aguenta a mão, 1965
- Samba italiano, 1965
- Tocar na banda, 1965
- Pafunça, 1965
- O casamento do Moacir, 1967
- Mulher, patrão e cachaça, 1968
- Vila Esperança, 1968
- Despejo na favela, 1969
- Fica mais um pouco, amor, 1975
- Acende o candeeiro, 1972
[editar] Filmografia
- 1953 - "O Cangaceiro"
- 1954 - " Candinho"
- 1955 - "A Carrocinha"
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