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quinta-feira, 15 de maio de 2014

Rejeição ativa circuitos da dor no cérebro - SALVADOR NOGUEIRA

da Folha de S.Paulo

É doloroso ser excluído de uma festa --literalmente doloroso. Segundo um grupo de psicólogos da Universidade da Califórnia, os mesmos circuitos do cérebro que processam o incômodo de uma dor nas costas também lidam com a rejeição e a exclusão social.

Eles descobriram isso após submeter 13 voluntários a um jogo, enquanto monitoravam suas reações cerebrais com imagens obtidas por ressonância magnética.

No jogo, os pesquisadores pretendiam investigar dois tipos de exclusão social, uma supostamente ocasionada por problemas técnicos e outra intencional, provocada por outras pessoas. Para isso, criaram o seguinte estratagema: colocaram o voluntário junto ao aparelho de ressonância, de frente para um monitor de computador que mostrava dois outros supostos participantes. O jogo consistia simplesmente em jogar a bola para um dos outros jogadores, após recebê-la.

No início, o voluntário era informado de que ainda não poderia participar, por uma falha na conexão com os outros dois supostos participantes. Assistia, impassível, ao jogo dos outros dois.

Após algum tempo, os cientistas comunicavam: a conexão havia sido estabelecida. O jogo começava normalmente, e o voluntário recebia algumas bolas, mas, em seguida, os outros paravam de lhe passar a bola, voltando a jogar sozinhos. Na verdade, os dois outros jogadores eram controlados por computador, mas o voluntário achava que eram duas pessoas, que, por alguma razão, não queriam jogar com ele.

Após o fim do experimento, os voluntários reportaram perturbação ao se sentirem excluídos, processo que foi correlacionado à ativação de uma área do cérebro conhecida como córtex cingulado anterior. É a região normalmente associada ao incômodo causado por dores de natureza física, como uma torção ou uma pancada.

Isso não quer dizer que as duas sensações sejam iguais. "Embora as dores físicas e sociais sejam ambas "dolorosas", elas obviamente são diferentes. O elo comum entre as duas é o elemento de incômodo associado à atividade do córtex cingulado anterior", explica Naomi Eisenberger, que liderou a pesquisa publicada hoje na revista americana "Science" (www.sciencemag.org).

"Em pacientes com fortes dores crônicas, algumas vezes é realizada uma cirurgia na qual é lesada parte do córtex cingulado anterior. Após essa operação, os pacientes reportam que, embora ainda possam sentir a dor, ela não os incomoda mais", diz.

Eisenberger acha que seus estudos já podem ter utilidade prática, no planejamento de tratamentos psicológicos ou psiquiátricos.

"Se há realmente uma sobreposição entre dor física e social, então afetar um tipo de dor deve afetar o outro", diz. "Por exemplo, se estivermos na presença de um companheiro próximo, talvez consideremos a dor física menos incômoda. Em contraste, se estivermos experimentando algum tipo de separação social por perda ou rejeição, poderemos ficar mais sensíveis ou incomodados por dores no corpo. Ter consciência disso pode ajudar psicólogos e médicos a entender melhor e a tratar ambos os tipos de dor."

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