da Folha de S.Paulo
É
doloroso ser excluído de uma festa --literalmente doloroso. Segundo um
grupo de psicólogos da Universidade da Califórnia, os mesmos circuitos
do cérebro que processam o incômodo de uma dor nas costas também lidam
com a rejeição e a exclusão social.
Eles descobriram isso após
submeter 13 voluntários a um jogo, enquanto monitoravam suas reações
cerebrais com imagens obtidas por ressonância magnética.
No jogo,
os pesquisadores pretendiam investigar dois tipos de exclusão social,
uma supostamente ocasionada por problemas técnicos e outra intencional,
provocada por outras pessoas. Para isso, criaram o seguinte estratagema:
colocaram o voluntário junto ao aparelho de ressonância, de frente para
um monitor de computador que mostrava dois outros supostos
participantes. O jogo consistia simplesmente em jogar a bola para um dos
outros jogadores, após recebê-la.
No início, o voluntário era
informado de que ainda não poderia participar, por uma falha na conexão
com os outros dois supostos participantes. Assistia, impassível, ao jogo
dos outros dois.
Após algum tempo, os cientistas comunicavam: a
conexão havia sido estabelecida. O jogo começava normalmente, e o
voluntário recebia algumas bolas, mas, em seguida, os outros paravam de
lhe passar a bola, voltando a jogar sozinhos. Na verdade, os dois outros
jogadores eram controlados por computador, mas o voluntário achava que
eram duas pessoas, que, por alguma razão, não queriam jogar com ele.
Após
o fim do experimento, os voluntários reportaram perturbação ao se
sentirem excluídos, processo que foi correlacionado à ativação de uma
área do cérebro conhecida como córtex cingulado anterior. É a região
normalmente associada ao incômodo causado por dores de natureza física,
como uma torção ou uma pancada.
Isso não quer dizer que as duas
sensações sejam iguais. "Embora as dores físicas e sociais sejam ambas
"dolorosas", elas obviamente são diferentes. O elo comum entre as duas é
o elemento de incômodo associado à atividade do córtex cingulado
anterior", explica Naomi Eisenberger, que liderou a pesquisa publicada
hoje na revista americana "Science" (www.sciencemag.org).
"Em
pacientes com fortes dores crônicas, algumas vezes é realizada uma
cirurgia na qual é lesada parte do córtex cingulado anterior. Após essa
operação, os pacientes reportam que, embora ainda possam sentir a dor,
ela não os incomoda mais", diz.
Eisenberger acha que seus estudos já podem ter utilidade prática, no planejamento de tratamentos psicológicos ou psiquiátricos.
"Se
há realmente uma sobreposição entre dor física e social, então afetar
um tipo de dor deve afetar o outro", diz. "Por exemplo, se estivermos na
presença de um companheiro próximo, talvez consideremos a dor física
menos incômoda. Em contraste, se estivermos experimentando algum tipo de
separação social por perda ou rejeição, poderemos ficar mais sensíveis
ou incomodados por dores no corpo. Ter consciência disso pode ajudar
psicólogos e médicos a entender melhor e a tratar ambos os tipos de
dor."
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