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A
Ilíada (em
grego antigo: Ἰλιάς,
AFI:
[iːliás]) é um
poema épico grego que narra os acontecimentos ocorridos no período de pouco mais de 50 dias durante o décimo e último ano da
Guerra de Troia e cuja gênese radica na ira (μῆνις, mênis), de
Aquiles 1 . O título da obra deriva de um outro nome grego para
Troia, Ílion.
A
Ilíada é atribuída a
Homero, que se julga ter vivido por volta do
século VIII a.C1 , na
Jônia (lugar que hoje é uma região da
Turquia),
e constitui o mais antigo e extenso documento literário grego (e
ocidental) que chegou nos nossos dias. Ainda hoje, contudo, se discute a
sua autoria e a existência real de Homero
Visão geral
Aquiles cura Pátroclo - Detalhe de vaso em técnica de cerâmica vermelha 500 a.C.
A
Ilíada é constituída por 15.693 versos em
hexâmetro datílico,
que é a forma tradicional da poesia épica grega. Foi composta por uma
mistura de dialetos, resultando numa língua literária artificial, que
nunca foi de fato falada na Grécia.
Considera-se que tenha a sua origem na tradição oral desde tempos micênicos ou seja, teria originalmente sido cantada pelos
aedos, e só muito mais tarde os versos foram compilados numa versão escrita, no
século VI a.C. em
Atenas.
O poema foi então posteriormente dividido em 24 cantos, divisão que
persiste até hoje. A divisão, com cada canto correspondendo a uma letra
do alfabeto grego, é atribuída aos estudiosos da
biblioteca de Alexandria, mas pode ser anterior.
Tornou-se, juntamente com a Odisseia (atribuída ao mesmo autor), modelo da poesia épica, seguido pelos autores clássicos, como
Virgílio, na sua Eneida, dentre outros. No entanto a
Ilíada
influenciou fortemente a cultura clássica de maneira geral, abrangendo
campos não só da literatura, como a poesia lírica e a tragédia
(influenciando a linguagem e os temas desses),mas também a
historiografia (não só pela temática bélica, mas a também a estrutura
das narrativas historiográficas), a filosofia etc., sendo estudada e
discutida na
Grécia Antiga (onde era parte da educação básica) e, posteriormente, no
Império Romano.
É considerada como a "obra fundadora" da literatura ocidental e uma das mais importantes da literatura mundial.
Argumento
A
Ilíada passa-se durante o nono ano da
guerra de Troia e trata da ira de
Aquiles. A ira é causada por uma disputa entre Aquiles e
Agamenon,
comandante dos exércitos gregos em Tróia, e consumada com a morte do
herói troiano Heitor (ou Héctor), terminando com seu funeral. Embora
Homero
se refira a uma grande diversidade de mitos e acontecimentos prévios,
que eram de amplo conhecimento dos gregos e portanto da sua plateia, a
história da guerra de Troia não é contada na íntegra. Dessa forma, o
conhecimento prévio da mitologia grega acerca da guerra é relevante para
a compreensão da obra.
A guerra de Troia
Os gregos antigos acreditavam que a
Guerra de Troia era um fato histórico, ocorrido por volta de
1200 a.C. no
período micênico, mas alguns estudiosos atuais têm dúvidas sobre se ela de fato ocorreu. Até à descoberta do sítio arqueológico na Turquia, na
Anatólia, acreditava-se que
Troia era uma cidade mitológica.
A Guerra de Troia deu-se quando os
aqueus atacaram a cidade de Troia, buscando vingar o rapto de
Helena, esposa do rei de Esparta,
Menelau, irmão de
Agamemnon1
. Os aqueus eram os povos que hoje conhecemos como gregos, que
compartilhavam uma cultura e língua comuns, mas na época se definiam
como vários reinos, e não como um povo uno.
A lenda conta que a deusa (
ninfa) do
mar Tétis era desejada como esposa por
Zeus e seu irmão
Posidão. Porém
Prometeu profetizou que o filho da deusa seria maior que seu pai. Então os deuses resolveram dá-la como esposa a
Peleu, um mortal já idoso, intencionando enfraquecer o filho, que seria apenas um humano. O filho de ambos é o guerreiro
Aquiles.
Sua mãe, visando fortalecer sua natureza mortal, mergulhou-o, ainda
bebê, nas águas do mitológico rio Estige. As águas tornaram o herói
invulnerável, exceto no calcanhar, por onde a mãe o segurou para o
mergulhar no rio (daí a famosa expressão
calcanhar de Aquiles,
significando ponto vulnerável). Aquiles tornou-se o mais poderoso dos
guerreiros, porém, ainda era mortal. Mais tarde, sua mãe profetiza que
ele poderá escolher entre dois destinos: lutar em Troia e alcançar a
glória eterna, mas morrer jovem, ou permanecer em sua terra natal e ter
uma longa vida, mas sendo logo esquecido.
Para o casamento de Peleu e Tétis todos os deuses foram convidados, menos
Éris, ou Discórdia. Ofendida, a deusa compareceu invisível e deixou à mesa um pomo de ouro com a inscrição “à mais bela”. As deusas
Hera,
Atena e
Afrodite disputaram o pomo e o título de mais bela. Zeus então ordenou que o príncipe troiano
Páris,
à época sendo criado como um pastor ali perto, resolvesse a disputa.
Para ganhar o título de “mais bela”, Atena ofereceu a Páris poder na
batalha, Hera o poder e Afrodite o amor da mulher mais bela do mundo.
Páris deu o pomo a Afrodite, ganhando assim sua proteção, porém atraindo
o ódio das outras duas deusas contra si e contra Troia.
A mulher mais bela do mundo era
Helena, filha de Zeus e Leda. Leda era casada com
Tíndaro,
rei de Esparta. Helena possuía diversos pretendentes, que incluíam
muitos dos maiores heróis da Grécia, e o seu pai adotivo, Tíndaro,
hesitava tomar uma decisão em favor de um deles temendo enfurecer os
outros. Finalmente um dos pretendentes, Odisseu (cujo nome latino era
Ulisses), rei de
Ítaca,
resolveu o impasse propondo que todos os pretendentes jurassem proteger
Helena e sua escolha, qualquer que fosse. Helena então se casou com
Menelau, que se tornou o rei de
Esparta.
Quando
Páris
foi a Esparta em missão diplomática, se enamorou de Helena e ambos
fugiram para Troia, enfurecendo Menelau. Este apelou aos antigos
pretendentes de Helena, lembrando o juramento que haviam feito.
Agamémnom então assumiu o comando de um exército de mil barcos e
atravessou o
mar Egeu
para atacar Troia. As naus gregas desembarcaram na praia próxima a
Troia e iniciaram um cerco que duraria 10 anos, custando a vida de
muitos heróis, de ambos os lados. Finalmente, seguindo um estratagema
proposto por
Odisseu, o famoso
Cavalo de Troia, os gregos conseguiram invadir a cidade governada por Príamo e terminar a guerra.
Personagens principais
A
Ilíada é um poema extenso e possui uma grande quantidade de
personagens da mitologia grega. Homero assumia que seus ouvintes estavam
familiarizados com esses mitos, o que pode causar confusão ao leitor
moderno. Segue um resumo dos personagens que tomam parte na
Ilíada:
Os Aqueus
Os gregos antigos não se definiam como "
gregos" ou "Helênicos", denominação posterior, mas como "
aqueus",
compostos por diversos povos de diversos reinos que tinham uma língua e
cultura razoavelmente compartilhada. Os aqueus também são chamados de "
Dânaos" por
Homero.
- Aquiles: príncipe de Ftia, líder dos mirmidões (mirmídones), herói e melhor de todos os guerreiros, filho da deusa marinha Tétis e do mortal rei Peleu. Sua ira é o tema central da Ilíada. Vinga a morte do amigo Pátroclo matando Heitor em um duelo um a um.
- Agamêmnon: Rei de Micenas e comandante supremo dos aqueus, sua atitude de tomar a escrava Briseis de Aquiles é o estopim do desentendimento entre eles.
- Pátroclo: Amigo de Aquiles. Alguns argumentam que há envolvimento íntimo entre Aquiles e Pátroclo, o que foi, no entanto, refutado por Sócrates, no Diálogo Fedro,
citando passagens da Ilíada que dizem que Aquiles e Pátroclo dormiam em
leitos separados, cada um com sua respectiva concubina. Foi morto por
Heitor enquanto fingia ser Aquiles.
- Odisseu
(Ulisses): Rei de Ítaca, considerado “astuto”, ou “ardiloso”.
Frequentemente faz o papel de embaixador entre Aquiles e Agamémnom. Foi
ele que teve a ideia de fazer uma armadilha aos troianos. É o personagem
principal de Odisseia, também atribuído a Homero em que é narrada a volta de Odisseu a Ítaca
- Calcas Testorídes: Poderoso vidente que guia os aqueus. Foi ele que predisse que a guerra duraria 10 anos, que era preciso devolver Briseis (Briseida) ao pai e muitas outras coisas.
- Ájax:
É mais forte e habilidoso dos guerreiros gregos depois de Aquiles, era
praticamente imbatível e graças a ele os gregos conseguiram muitas
vitorias sobre os troianos
- Ájax, filho de Oileu:
Liderou um destacamento de lócridas durante a guerra na qual
desempenhou um papel importante e foi um dos guerreiros que estava
dentro do cavalo de madeira
- Nestor: Um dos dos guerreiros da Grécia , embora Nestor fosse velho era famoso pela sua coragem
- Idomeneu: rei de Creta e neto de Minos e é um dos guerreiros gregos
- Diomedes:
Príncipe de Argos, comandava a frota de navios de seu reino. Herói
valente que participou ativamente do cerco, da pilhagem e do saque de
Troia
- Menelau: Rei de Esparta, marido de Helena e irmão mais novo de Agamémnom.
- Protesilau: Fez uma profecia que o primeiro que pisasse em solo troiano também seria o primeiro a morrer, e acabou sendo ele mesmo.
Os Troianos e seus aliados
- Heitor, ou Héctor: Príncipe de Troia, filho de Príamo e irmão de Páris.
É o melhor guerreiro troiano, herói valoroso que combate para defender
sua cidade e sua família. Líder dos exércitos troianos. Mata Pátroclo em
uma batalha achando que ele era Aquiles porque usava sua armadura,
escudo e espada sem mencionar a semelhança física entre os dois. Morto
por Aquiles em um duelo.
- Príamo: rei de Tróia, já é idoso, portanto quem comanda de fato a luta é seu filho, Heitor.
- Páris:
Príncipe de Troia, sua fuga com Helena é a causa da guerra. É sua a
flecha que finalmente mata Aquiles, acertando-o no calcanhar.
- Eneias: Primo de Heitor e seu principal tenente. É o personagem principal da Eneida, obra máxima do poeta latino Virgílio.
- Helena: Esposa de Páris, antes casada com Menelau, e pivô da guerra. Com a queda de Troia volta para Esparta e para Menelau.
- Andrómaca: Esposa de Heitor, de quem tinha um filho bebê, Astíanax.
- Briseis (Briseida): Prima de Heitor e Páris, capturada pelos aqueus, se torna escrava de Aquiles e acaba se apaixonando por ele e vice-versa.
Os deuses
Os deuses gregos tomam parte ativa na trama, envolvendo-se na batalha e ajudando ambos os lados.
Ficaram do lado dos gregos (aqueus):
Ficaram do lado dos troianos:
Zeus e
Hades mantiveram-se neutros. Outras divindades menores, como
Péon,
Íris e
Éris, também se envolveram nos eventos.
Resumo da narração
No décimo ano do cerco a
Troia, há um desentendimento entre as forças dos aqueus, comandadas por
Agamêmnon.
Ao dividirem os espólios de uma conquista, o comandante aqueu fica,
entre outros prêmios, com uma moça chamada Criseida, enquanto que a
Aquiles cabe outra bela jovem,
Briseis (Briseida). Criseida era filha de Crises,
sacerdote do deus
Apolo,
e este pede a Agamémnom que lhe restitua a filha em troca de um
resgate. O chefe aqueu recusa a troca, e o pai ofendido pede ajuda a seu
deus. Apolo passa então a castigar os aqueus com a peste. Quando
forçado a devolver Criseida ao pai para aplacar o castigo divino,
Agamémnom toma a Aquiles sua Briseis, como forma de compensação e
afronta a Aquiles. Este, ofendido, se retira da guerra junto com seus
valentes
Mirmidões.
Aquiles pede então a sua divina mãe que interceda junto a Zeus,
rogando-lhe para que favoreça aos troianos, como castigo pela ofensa de
Agamémnom. Tétis consegue a promessa de Zeus de que ajudará aos
troianos, a despeito da preferência de sua esposa, Hera, pelo lado
aqueu.
Então Zeus manda a Agamémnom, através de
Oneiros, um
sonho
incitando-o a atacar Troia sem as forças de Aquiles. Agamémnom resolve
testar a disposição de seu exército. A tentativa por pouco não termina
em revolta generalizada, incitada pelo insolente Tersites. A rebelião só
é evitada graças à decisiva intervenção de Odisseu, que fustiga
Tersites e lembra a profecia de Calcas de que
Ílion cairia no décimo ano do cerco.
Os dois exércitos perfilam-se no campo de batalha, diante de Troia.
Páris, príncipe de Troia, se adianta, mas logo recua ao ver Menelau, de
quem roubara a esposa causando a guerra. Menelau o insulta e Páris
responde propondo um
duelo
entre ambos. Os aqueus respondem com agressões, porém seu irmão Heitor,
o maior herói troiano, reitera o desafio, propondo que o destino da
guerra seja decidido numa luta entre Menelau e Páris. Menelau aceita,
exigindo juramento de sangue sobre o pacto de respeitar o resultado do
duelo. Enquanto os preparativos são feitos, Helena se junta a Príamo,
rei de Troia, no alto de uma torre para observar a contenda. Ela
apresenta os maiores comandantes gregos, apontando-os para Príamo.
O duelo tem início e Menelau leva vantagem. Quando está para derrotar
Páris, Afrodite intervém e o retira da batalha envolto em névoa,
levando-o ao encontro de Helena. Agamémnom declara então que Menelau
venceu a disputa e exige a entrega de Helena e pagamento do resgate.
Porém Hera e Atena protestam junto a Zeus, pedindo a continuidade da
guerra até a destruição de Tróia. Zeus cede em troca da não intervenção
de Hera caso deseje destruir uma cidade protegida por ela. Atena então
desce entre as tropas troianas e convence Pândaro, arqueiro troiano, a
disparar contra Menelau, ferindo-o e rompendo o pacto com os gregos. O
exército troiano avança, e Agamémnom incita os aqueus ao combate. Tem
lugar então uma luta violenta, na qual os gregos começam a levar
vantagem. Porém Apolo incita aos troianos, lembrando-os que Aquiles não
participa da peleja.
Os troianos então avançam, retomando a vantagem sobre os gregos, a
despeito dos grandiosos esforços de Diomedes, que, insuflado pela deusa
Palas Atena, chega a ferir os deuses Afrodite e Ares, que defendem os
troianos. Os gregos por sua vez parecem retomar a vantagem, o que faz
com que Heitor então retorne à cidade para pedir a sua mãe que tente
acalmar Palas com oferendas. Após falar com a mãe, encontra-se com sua
esposa e seu filho em uma torre. O encontro, em que Heitor fala com a
esposa e o filho sobre o seus futuros, é bastante triste, pois Heitor
pressente que Tróia cairá. A seguir, convoca Páris e com ele volta à
batalha.
Apolo combina com Atena uma
trégua
na batalha e para consegui-la incitam Heitor a desafiar um herói grego
ao duelo. Ajax é o escolhido num sorteio e avança para o combate. O
duelo é renhido e prossegue até a noite, quando é interrompido. Os
aqueus então aproveitam para recolher seus mortos e preparar um
baluarte.
Com a manhã, o combate recomeça, porém Zeus proíbe os outros deuses
de interferir, enquanto que ele dispara raios dos céus, prejudicando aos
aqueus. O combate prossegue desastroso para os gregos, que acabam por
se recolher ao baluarte ao final do dia. Os troianos acampam por perto,
ameaçadores.
Durante a noite Agamémnom se desespera, percebendo que havia sido
enganado por Zeus. Porém Diomedes garante que os aqueus têm fibra e
ficarão para lutar. Agamémnom acaba por ouvir os conselhos de Nestor, e
envia a Aquiles uma embaixada composta por Odisseu, Ajax, dois
arautos
e o veterano Fenix presidindo, para oferecer presentes e pedir ao herói
que retorne à batalha. Aquiles, porém, ainda irado, não cede.
Agamémnom então envia Odisseu e Diomedes ao acampamento troiano numa
missão de espionagem. Heitor, por sua vez, envia Dolon espionar
acampamento aqueu. Dólon é capturado por Odisseu e Diomedes, que extraem
informações e o matam. A seguir invadem o acampamento troiano e
massacram o rei Reso e doze guerreiros que dormiam, retirando-se de
volta para o lado aqueu, onde são recebidos com festa.
Durante o dia o combate é retomado, e os troianos novamente são
superiores, empurrados por Zeus. Heitor manda uma grande pedra de
encontro a um dos portões e invade o baluarte grego, expulsando-os e os
empurrando até as naus, de onde não haveria mais para onde recuar a não
ser para o oceano. Há amargo combate, com os aqueus recebendo apoio
agora de Posidão enquanto Zeus favorece os troianos, com heróis
realizando grandes feitos de ambos os lados.
Hera, então, consegue convencer Hipnos a adormecer Zeus. Os gregos,
acuados terrivelmente, se aproveitam desse momento para recuperar alguma
vantagem, e Ajax fere a Heitor. Porém Zeus acorda e, vendo os troianos
dispersos e a momentânea vitória grega, reconhece a obra de Hera e a
repreende. Hera diz que Posidão é o único culpado, e Zeus a manda falar
com Apolo e Íris para que estes instiguem os troianos novamente à luta.
Então Zeus impede Posidão de continuar interferindo, e os troianos
retomam a vantagem. Os maiores heróis aqueus estão feridos.
Pátroclo, vendo o desastre dos aqueus, vai implorar a Aquiles que o
deixe comandar os Mirmidões e se juntar à batalha. Aquiles lhe empresta
as armas e consente que lidere os Mirmidões, mas recomenda que apenas
expulse os troianos da frente das naus, e não os persiga. Pátroclo então
sai com as armas de Aquiles (incluindo a
armadura,
o que faz com que aqueus e troianos achassem que Aquiles havia voltado à
batalha) e combate os troianos junto às naus. Ao ver fugindo os
troianos, Pátroclo desobedece a recomendação de Aquiles e os persegue
até junto da cidade. Lá, Heitor, percebendo que é Pátroclo e não
Aquiles, o confronta em duelo e acaba por matá-lo.
Há uma disputa pelas armas de Aquiles, e Heitor as ganha, porém Ajax
fica com o corpo de Pátroclo. Os troianos então repelem os gregos, que
fogem, acossados. Aquiles, ao saber da morte do companheiro, fica
terrivelmente abalado, e relata o acontecido a Tétis. Sua mãe promete
novas armas para o dia seguinte e vai ao
Olimpo
encomendá-las a Hefestos. Enquanto isso Aquiles vai ao encontro dos
troianos que perseguem os aqueus e os detém com seus gritos, permitindo
que os gregos cheguem a salvo com o cadáver. A noite interrompe o
combate.
Na manhã seguinte Aquiles, de posse das novas armas e reconciliado
com Agamémnom, que lhe restituíra Briseida, acossa ferozmente os
troianos numa batalha em que Zeus permite que tomem parte todos os
deuses. Trucidando diversos heróis, Aquiles termina por empurrar o
combate até os portões de Tróia. Lá Heitor, aterrorizado, tenta fugir de
Aquiles, que o persegue ao redor da cidade. Por fim Heitor é enganado
por Atena, que o convence a se deter e enfrentar o maior herói aqueu.
Ele pede a Aquiles que seja feito um trato, com o vencedor respeitando o
cadáver
do vencido, permitindo seu enterro digno e funerais adequados. Aquiles,
enlouquecido de raiva, grita que não há pacto possível entre presa e
predador. O terrível duelo acontece e Aquiles fere mortalmente Heitor na
garganta, única parte desprotegida pela armadura. Morrendo diante de
seus entes queridos, que assistiam de dentro das muralhas, Heitor volta a
implorar a Aquiles que permita que seu corpo seja devolvido a Tróia
para ser devidamente velado. Aquiles, implacável, nega e diz que o corpo
de Heitor será pasto de abutres enquanto o de Pátroclo será honrado.
Aquiles amarra o corpo de Heitor pelos pés à sua biga e o arrasta
diante da família e depois o traz até o acampamento grego. São feitos os
jogos funerais de Pátroclo. Durante a noite, o idoso Príamo vem
escondido ao acampamento grego pedir a Aquiles pelo corpo do filho. O
seu apelo é tão comovente que Aquiles cede, chorando, com a ira
arrefecida. Aquiles promete trégua pelo tempo necessário para o adequado
funeral de Heitor. Príamo leva o cadáver de seu filho de volta para a
cidade, onde são prestadas as honras fúnebres ao príncipe e maior herói
de Troia.
Corpo de Heitor sendo levado de volta a Troia – Alto relevo romano em mármore, detalhe de um sarcófago
Resumo dos Cantos
- Canto I: É o décimo ano da guerra de Troia. Aquiles e Agamémnom
desentendem-se devido à disputa sobre uma jovem cativa, Briseida.
- Canto II: Odisseu impede uma revolta e os gregos preparam-se para um ataque a Troia.
- Canto III: Páris desafia Menelau para um duelo, propondo decidir o
destino da guerra. Menelau vence, mas Páris sobrevive, salvo por
Afrodite.
- Canto IV: O pacto é quebrado pelos troianos e a guerra recomeça.
- Canto V: Diomedes, ajudado por Palas Atena, realiza grandes prodígios, ferindo Afrodite e Ares.
- Canto VI: Heitor retorna a Troia para pedir que se tente apaziguar
Palas Atena. Encontra-se com esposa e filho e retorna à batalha junto de
seu irmão Páris.
- Canto VII: Heitor duela com Ajax. A luta empata, interrompida pela noite.
- Canto VIII: Os deuses retiram-se da batalha.
- Canto IX: Agamémnom tenta reconciliar-se com Aquiles, mas este recusa.
- Canto X: Diomedes e Odisseu saem em missão de espionagem e atacam o acampamento troiano.
- Canto XI: Páris fere Diomedes, e Pátroclo fica sabendo da desastrosa situação grega.
- Canto XII: Retirada grega até às naus.
- Canto XIII: Posidão apieda-se dos gregos e os motiva.
- Canto XIV: Hera adormece Zeus, permitindo a reação grega.
- Canto XV: Zeus acorda e impede que Posídon continue interferindo. Os troianos retomam a vantagem no combate.
- Canto XVI: Pátroclo pede a armadura a Aquiles e permissão para
entrar na luta. Aquiles concede, porém Pátroclo é morto por Heitor.
- Canto XVII: Há uma disputa pelo corpo e armadura de Pátroclo. Heitor fica com a armadura e Ajax fica com o corpo de Pátroclo.
- Canto XVIII: Aquiles fica sabendo da morte de Pátroclo, e sua mãe providencia-lhe uma nova armadura.
- Canto XIX: Aquiles, de armadura nova e reconciliado com Agamémnom, junta-se à guerra.
- Canto XX: Batalha furiosa, da qual participam livremente os deuses.
- Canto XXI: Aquiles chega aos portões de Troia
- Canto XXII: Aquiles duela com Heitor e o mata. A seguir, desonra seu cadáver, arrastando-o ao acampamento grego.
- Canto XXIII: Pátroclo é velado adequadamente.
- Canto XXIV: Príamo pede o cadáver do filho a Aquiles que, comovido, cede. Heitor é devidamente velado em Troia.
Traduções
No Brasil, há três traduções poéticas publicadas, cada uma com critérios próprios de tradução.
A primeira é de Manuel
Odorico Mendes,
do século XIX (publicada originalmente em 1874), que, seguindo a
tradição épica em português, utiliza-se de decassílabos, porém brancos. É
marcada pela concisão (o número de versos da tradução é menor do que o
do original), preciosismo lexical, estruturas sintáticas incomuns e
neologismos - sobretudo para traduzir os epítetos gregos, latinizando-os
ou somente transliterando-os, como em "Aquiles
velocípede" [Aquiles de pés velozes], ou "Juno
bracinívea" [Juno de braços brancos], ou ainda "Aurora
dedirrósea"
[Aurora de dedos róseos]. Outra característica (na verdade, comum até
sua época) é a substituição dos nomes dos deuses gregos pelos
correspondentes latinos: Zeus, por Júpiter, Posidão por Netuno, Atena
por Minerva etc. Sua tradução foi recentemente reeditada pela editora
Ateliê, na coleção "Clássicos comentados", a cargo de Sálvio Nienkötter,
na qual há abundantes notas explicativas - verso a verso - para o
vocabulário, sintaxe etc.
Eis o proêmio traduzido por Odorico Mendes:
- Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles
- A ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos,
- Verdes no Orco lançou mil fortes almas,
- Corpos de heróis a cães e abutres pasto:
- Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem
- O de homens chefe e o Mirmidon divino.
A segunda tradução, do século XX (publicada originalmente em 1962), é de
Carlos Alberto Nunes, cujo critério foi transpor o metro original do poema (
hexâmetro dactílico)
para o português, resultando num verso de dezesseis sílabas poéticas,
cujo ritmo é a sequência de seis grupos ("pés") de sílabas, sendo cinco
deles compostos, cada um, por uma sílaba tônica e duas átonas, e o sexto
grupo composto, em geral, de uma tônica e uma átona, no seguinte
esquema: ó o o | ó o o | ó o o | ó o o | ó o o | ó o .
A tradução é editada pela Ediouro, porém em uma versão revisada por
Marcus Reis Pinheiro (a qual distorce o esquema métrico em alguns
versos, devido a essa revisão), e também pela editora Hedra, mas esta
com o texto original.
Eis o proêmio traduzido por Carlos Alberto Nunes (o negrito marca as tônicas):
- Canta-me a cólera – ó deusa – funesta de Aquiles Pelida
- causa que foi de os Aquivos sofrerem trabalhos sem conta
- e de baixarem para o Hades as almas de heróis numerosos
- e esclarecidos ficando eles próprios aos cães atirados
- e como pasto das aves. Cumpriu-se de Zeus o desígnio
- desde o princípio em que os dois em discórdia ficaram cindidos:
- o de Atreu filho senhor de guerreiros e Aquiles divino.
Haroldo de Campos publica sua tradução (ou
transcriação,
como preferia chamar) completa da Ilíada em 2002, apos dez anos
traduzindo-a (publicara os dois primeiros cantos ainda na década de
1990). Utilizando-se do dodecassílabo, busca sobretudo resgatar a
sonoridade original do poema grego em português, valendo-se também,
dentre outros expedientes, de neologismos, geralmente em palavras
compostas. Editada pela editora Arx/Benvirá.
A tradução do proêmio feita por Haroldo de Campos:
- A ira, Deusa, celebra do Peleio Aquiles,
- o irado desvario, que aos Aqueus tantas penas
- trouxe, e incontáveis almas arrojou no Hades
- de valentes, de heróis, espólio para os cães,
- pasto de aves rapaces: fez-se a lei de Zeus;
- desde que por primeiro a discórdia apartou
- o Atreide, chefe de homens, e o divino Aquiles.
Em Portugal, foi publicada pela editora Cotovia, em 2005, a tradução feita por
Frederico Lourenço
(também publicada no Brasil, em 2013, pela Penguin Classics Companhia
das Letras), que objetiva uma maior literalidade e, para tal, ele
empregou versos livres.
Eis sua tradução do proêmio:
- Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida
- (mortífera!, que tantas dores trouxe aos Aqueus
- e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades,
- ficando seus corpos como presa para cães e aves
- de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus),
- desde o momento em que primeiro se desentenderam
- o Atrida, soberano dos homens, e o divino Aquiles.
Adaptações
A história da
Guerra de Troia em geral e da
Ilíada
em particular foi amplamente adaptada ao longo dos séculos, tanto na
literatura quanto em outras artes. Uma das adaptações mais recentes que
ganharam notoriedade é a do filme norte-americano
Troia (
veja IMDB) de
2004, que narra basicamente os eventos da Ilíada acrescidos de uma introdução e do desfecho da guerra. Embora tenha sido baseado na
Ilíada,
o filme toma uma série de liberdades em relação à história de Homero. A
mais notável delas é a exclusão dos deuses gregos como personagens
ativas da trama, sendo referidos apenas pela fé das personagens neles.
Além disso, diversos eventos foram alterados no filme, como o destino de
Agamémnom, de Menelau, de Ajax. Pátroclo foi transformado em primo de
Aquiles, Briseis em sua amante e a duração da guerra foi reduzida de 10
anos para algumas semanas, entre outras mudanças.
Em 2003, o autor
Dan Simmons lançou um livro épico de ficção científica chamado
Ilium, adaptando/homenageando o poema homérico.
Na
antiguidade clássica diversas peças de teatro trataram dos eventos subsequentes à guerra, incluindo o destino de outros personagens. A
Eneida de
Virgílio deve grande tributo à
Ilíada (e também à
Odisseia), e narra a história do tenente de Heitor, Eneias.
Temas na Ilíada
Embora a
Ilíada narre uma série de acontecimentos da
guerra de Troia e se refira a uma série de outros, seu tema principal é o ciclo da ira de
Aquiles, da sua causa ao seu arrefecimento. Isto fica claro logo na primeira linha do poema. A palavra grega
mēnin, ira, é a primeira do poema, cuja famosa primeira linha é "
Menin aeide, Thea, Peleiadeo Aquileos".
Em português seria “A ira canta, Deusa, de Peleio Aquiles” ou,
adaptando, “Canta, Deusa, a ira do filho de Peleu, Aquiles”. Através da
consumação dessa ira, é tratada a humanização do herói e semideus
Aquiles, sempre conflitado por sua dupla natureza, filho de deusa e
homem, portanto mortal.
A questão da escolha entre valores materiais, como a segurança e a
vida longa, e valores morais, mais elevados, como a glória e o
reconhecimento eterno, é tratada na escolha com que Aquiles se defronta:
lutar, morrer jovem e ser lembrado para sempre, ou permanecer seguro e
ser esquecido.
A
soberba
de Aquiles contrasta grandemente com a sobriedade de Heitor, também
grande herói, que não busca a glória como Aquiles, mas luta pela
segurança de sua família e de sua cidade, e a preservação de suas raízes
troianas.
A guerra e suas consequências também é tema central na
Ilíada, sendo ricamente retratada.
A condição humana é magistralmente trabalhada por Homero, mostrando
os dilemas mortais, as interferências de instâncias superiores e suas
consequências, personificadas nos deuses que tomam partido.
Amizade, honra e muitos outros temas abstratos também fazem parte da
obra, compondo um belo painel da alma humana, o que é, sem dúvida, uma
das qualidades que têm determinado a longevidade da narrativa homérica
na cultura universal.
Críticas
José Agostinho de Macedo, na sua obra
Motim Literário em forma de Solilóquios
(1811), escreve referindo-se à proposição da Ilíada: "Em primeiro
lugar, eu não gosto disto, não está mais na minha mão." Em segundo
lugar, prossegue o padre, o tema da epopeia é impróprio:—
- [A] ira de Achilles he o grande assumpto da Iliada, e a ira de um
homem poderá ser jámais hum plausivel argumento para hum poema heroico?
A acção do poema epico, deve ser como ensinão todos os mestrassos
louvavel, grande, sublime, virtuosa, e huma paixão como he a ira não
póde ser matéria da Epopea. E tal he a escolha que fez a trombeta de
Homero! A ira he huma paixão louca, e detestavel. Horacio lhe chama
furor breve. Cicero chama sem ceremonia a hum homem irado hum
mentecapto, e o mesmissimo Aristoteles tão fanatico por Homero, pinta
esta paixão como hum affecto irracionavel, e canino. E huma acçáo, que
toda ella se escarrancha, e se estriba sobre os effeitos desta paixão,
poderá ser digna da magestade da Epopéa [...]?
Conclui o padre, após esboçar um breve resumo da história da Ilíada,
que, para si, "toda a Ilíada é uma infernal salgalhada, uma barafunda
confusíssima, uma mixórdia intolerável."—
- [E]u não posso aturar mesas de pé de gallo, que andão pelo seu pé
sem ninguém lhes mecher; cavallos, que fallão, e chorão pelas barbas
abaixo como humas crianças acabadas de açoitar; heroes, e principes a
assar carne, e a virar espetos, sem hum bixo de cozinha que lhe tire o
trabalho; descomposturas atrozes antes que venhão ás mãos; Vénus mettida
em brigas, e arruidos, e sahindo dalli com duas cutilladas, que lhe
pespegou na cara o desalmado Diomedes; e Marte escalavrado de huma
pedrada com que Ajax o crismou na cabeça; eu não posso aturar os
mensageiros que vão repetir os recados que lhe dão com a mesmissimas
palavras com que Ihos dérão; eu não posso gostar das alcunhas obrigadas
com que o poeta designa todos os seus heroes, e Numes, como v.g.
Achilles, o pé leve; Juno, a olho de boi.
Confessa José Agostinho de Macedo, por fim: "seja Homero o que fôr, para mim é uma intolerável secatura."
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Referências
Ligações externas
O
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Ilíada
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(em grego clássico). O site, além de conter diversas traduções
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Bibliografia
- HOMERO. Ilíada. Trad. Odorico Mendes; pref. Augusto Magne. Rio de Janeiro / São Paulo / Porto Alegre: W. M. Jackson Inc., 1950 (in: Clássicos Jackson, vol. XXI)
- HOMERO. Ilíada. Trad. Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 1969.
- HOMERO. A Ilíada. Trad. Fernando C. de Araújo Gomes. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. (12a. ed., 2005)
- HOMERO. Ilíada. Trad. Haroldo de Campos; intro. e org. Trajano Viera; 2 v. (bilíngüe). São Paulo: Arx, 2003
- HOMERO. Ilíada. Trad. Frederico Lourenço. Lisboa: Livros Cotovia, 2005.