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As navegações | O infante | Os caminhos do Atlântico | O descobridor | A viagem | A carta de Caminha | Conclusões | Quadro da expansão marítima lusitana | Bibliografia
A Descoberta do Brasil
A Viagem
Num domingo, dia 8 de março de 1500, Lisboa estava em festa. A Armada
comandada por Pedro Alvares Cabral, desferrava-se, partiria para as
Índias. Ancorada no Restelo, depois chamado de Belém, nas margens do Rio
Tejo, zarpava em busca das almejadas especiarias de Calicute e de
outros logradouros orientais. Compunha-se de 13 barcos, com 1200 a 1500
soldados, dotados de bom armamento e de poderosa artilharia.
As informações sobre a trajetória a seguir vinham da viagem anterior,
capitaneada por Vasco da Gama, retornado à Portugal oito meses antes,
com os porões carregados de pimenta, canela, gengibre, tecidos finos e
outras excentricidades orientais que tanta procura tinham entre os
europeus. Em verdade, tratava-se de uma expedição militar-comercial,
pois as relações de troca com o Oriente envolviam medidas coercitivas e,
seguidamente, violentas como os acontecimentos sofridos pela feitoria
portuguesa em Calicute revelaram.
A cruzada econômica: depois de oficiada a missa, El-Rei D.
Manuel, o Venturoso, entregou a Cabral a bandeira da Ordem de Cristo e
um barrete benzido pelo papa especialmente para a ocasião. Além de
desbravar outros caminhos, os lusos, como a maioria dos cristãos
medievais, consideravam-se em guerra permanente contra o Islã. A
expedição às Índias era, de certa forma, uma cruzada, uma cruzada de
outro tipo, uma cruzada econômica. Pensavam, ao circunavegarem a África,
atingir os mercados orientais e assim enfraquecer a economia dos
infiéis, pois os portos do Levante controlados por eles atuavam como
intermediários, quase que monopolistas, do valiosíssimo comércio das
especiarias. Estabelecida uma rota oceânica certa e confiável para as
Índias, os portugueses afastariam a mão do mouro daqueles negócios.
O cavaleiro-mercantil: disse ter sido Pedro Alvares Cabral um
cavaleiro-mercantil, afeito à era da Revolução Comercial que se
avizinhava, que sabia combinar a busca pelos feitos de honra com as
afeições aos dinheiros e aos ganhos. Não mais um cruzado, de elmo, lança
e escudo, marchando para libertar o Santo Sepulcro, mas um
capitão-do-comércio, emproando uma nau com canhões, atrás de lucros,
debilitando o Crescente, inimigo da Cruz, atacando-o pela retaguarda.
Outros tempos, outras armas. O palco da luta não seria mais só a costa
norte do Mediterrâneo, o litoral do Marrocos, a Argélia, o Egito e a
Palestina, mas as águas quentes do Oriente, os portos da terra dos
marajás.
Gente ilustre: além do comandante-mór Pedro Alvares Cabral,
fidalguíssimo, estavam a bordo Bartolomeu Dias que primeiro cruzara o
cabo da Boa Esperança no sul da África, o “Capitão do Fim” como o chamou
Fernando Pessoa; Nicolau Coelho que acompanhara a expedição de Vasco da
Gama à Índia dois anos antes; Duarte Pacheco, descobridor de terras na
África e na América, e o franciscano D. Henrique, futuro inquisidor, que
trazia consigo mais sete outros frades e seria quem oficiaria a 1ª
Missa no Brasil. O substituo oficial de Cabral, seu vice-comandante, era
um fidalgo espanhol, refugiado na corte de D.Manoel, chamado Sancho de
Tovar.
O mar longo: a viagem de Cabral, segundo os registros, foi sem
grandes sobressaltos. Perdeu-se apenas uma embarcação. No dia 14 de
março a esquadra passou pela Grã- Canária e, no dia 22, pelas ilhas do
Cabo Verde. Dali rumou para o oeste, enfrentando o “mar longo”,
navegando nele por um mês. Após percorrer 660 léguas, uns 3600
quilômetros, “topamos alguns sinais de terra, sendo da dita ilha”,
registrou o escrivão Caminha, viram abundantes plantas e algas, “que os
mareantes chamam botelho” vindas da costa brasileira.
Era uma quarta-feira, 22 de abril de 1500, quando batizaram de Monte
Pascoal a primeira elevação que avistaram do mar, por ser o oitavo dia
da Páscoa cristã, e a terra, segundo Caminha, de “a terra da Vera Cruz”.
O relato mostra que não houve surpresa por parte da tripulação ou dos
comandantes com o “achamento”. Indicam isso sim que eles tinha certeza
que encontrariam terra em algum ponto na atravessia do mar longo (que
pode-se entender como o mar que separa a costa africana da brasileira).
A franja de litoral que lhes coube desembarcar estava, como verificou-se
posteriormente, dentro dos limites estabelecidos aos lusos pelo Tratado
de Tordesilhas, que a partir das 370 léguas das ilhas de Cabo Verde,
dividiu o mundo a ser desbravado entre os dois reinos Iberos, acertado
pelo Papa Alexandre VI em 1494.
Na praia: na reunião feita a bordo do navio capitania, ancorada
na boca do Rio Frade, no estado da Bahia de hoje, decidiu-se enviar para
a praia a Nicolau Coelho, um veterano que seguira Vasco da Gama. Na sua
companhia foi um tradutor, um judeu de nome Gaspar da Gama, por dominar
alguma coisa de árabe e outros idiomas exóticos, pois os chegados
pensavam ser costa indiana.
Mal o batel encalhou na praia foi recebido pacificamente por 18 homens,
que como descreveu-os o escrivão Pero Vaz de Caminha, eram “ pardos,
maneira de avermelhados, nus, sem nenhuma cobertura,....muito rígidos,
armados de arco e flechas”. Imediatamente, recorrendo a sinais, trocaram
presentes. Os lusos deram-lhes “um barrete vermelho, uma carapuça de
linho e um sombreiro preto”, recebendo um cocar de penas muitos
coloridas e cumpridas.
Dois mundos: Espantaram-se os navegantes com os pequenos ossos
que os nativos traziam atravessados nos lábios - “os bicos de ossos nos
beiços” - e por sua inocência e ausência de pudor. Eram Adão antes de
provar o fruto proibido. Naquele curto instante, nos estreitos limites
da praia baiana, à sombra das palmeiras, dois mundos separados por
séculos, por milênios, se encontraram. Duas eras encararam-se frente a
frente: o ser pré-histórico da Idade da Pedra viu-se, sem o saber,
perante o seu futuro conquistador, o ser da Idade do Ferro, ali armado
de mosquete e espada. O homem cor de cobre, o tupi, cederia nos séculos
vindouros tudo aquilo que o cercava ao lusitano, o brancarrão barbudo
desembarcado, vindo da distante Europa.
Descrevendo os nativos, disse deles AméricoVespúcio numa das suas Cartas:
“Não tem lei, nem fé nenhuma. E vivem segundo a natureza. Não
conhecem a imortalidade da Alma, não têm, entre ele bens próprios,
porque tudo é comum: não têm limites de Reinos, e de Províncias; não têm
Rei; não obedecem a ninguém. Cada um é senhor de si; nem favor , nem
graça a qual não lhes é necessária, porque não reina entre eles a
cobiça: moram em comum em casas feitas à moda de cabanas muito grandes, e
para gente que não têm ferro, nem outro metal qualquer, se pode dizer
que suas cabanas, ou casas maravilhosas, porque eu vi casas que são
longas 220 passos, e largas 30, e habilmente fabricadas, e numa destas
casas estavam 500, ou 600 almas. Dormem em redes estendidas de algodão,
estendidas noa r sem outra cobertura; comem sentado no solo...raízes de
árvores, raízes de ervas, e frutas muito boas, inúmeros peixes...São
gente muito prolífera; não têm heranças, porque não têm bens
próprios...” - (Carta a Lourenço de Medici, 1502)
Porto Seguro: reembarcados, levantaram âncora e navegaram mais
acima, para um lugar mais protegido, o Porto Seguro, onde foi rezada a
1ª Missa no Domingo do dia 26 de abril de 1500. A terra recém achada foi
considerada como uma dádiva divina colocada ao alcance de D. Manuel. A
cerimônia religiosa, oficiada por D. Henrique de Coimbra, consagrou-a
como espaço a ser convertido e integrado à Cristandade. Depois de mais
alguns encontros onde estiveram presentes mais de 400 indígenas,
curiosos perante a chegada daquela gente estranha, a expedição fez-se
novamente ao mar no dia 2 de maio de 1500, retomando a viagem para a
Índia. Não ficaram mais de dez dias na Terra dos Papagaios, como foi
popularmente chamada. Além de dois degredados que aqui foram deixados
aos prantos, dois grumetes fugiram de bordo e nunca mais foram vistos.
Eram, esses anônimos, os primeiros brasileiros.
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