segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

E FOI ASSIM QUE CHEGARAM AQUI...











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A Descoberta do Brasil

A Viagem
Num domingo, dia 8 de março de 1500, Lisboa estava em festa. A Armada comandada por Pedro Alvares Cabral, desferrava-se, partiria para as Índias. Ancorada no Restelo, depois chamado de Belém, nas margens do Rio Tejo, zarpava em busca das almejadas especiarias de Calicute e de outros logradouros orientais. Compunha-se de 13 barcos, com 1200 a 1500 soldados, dotados de bom armamento e de poderosa artilharia.

As informações sobre a trajetória a seguir vinham da viagem anterior, capitaneada por Vasco da Gama, retornado à Portugal oito meses antes, com os porões carregados de pimenta, canela, gengibre, tecidos finos e outras excentricidades orientais que tanta procura tinham entre os europeus. Em verdade, tratava-se de uma expedição militar-comercial, pois as relações de troca com o Oriente envolviam medidas coercitivas e, seguidamente, violentas como os acontecimentos sofridos pela feitoria portuguesa em Calicute revelaram.

A cruzada econômica: depois de oficiada a missa, El-Rei D. Manuel, o Venturoso, entregou a Cabral a bandeira da Ordem de Cristo e um barrete benzido pelo papa especialmente para a ocasião. Além de desbravar outros caminhos, os lusos, como a maioria dos cristãos medievais, consideravam-se em guerra permanente contra o Islã. A expedição às Índias era, de certa forma, uma cruzada, uma cruzada de outro tipo, uma cruzada econômica. Pensavam, ao circunavegarem a África, atingir os mercados orientais e assim enfraquecer a economia dos infiéis, pois os portos do Levante controlados por eles atuavam como intermediários, quase que monopolistas, do valiosíssimo comércio das especiarias. Estabelecida uma rota oceânica certa e confiável para as Índias, os portugueses afastariam a mão do mouro daqueles negócios.

O cavaleiro-mercantil: disse ter sido Pedro Alvares Cabral um cavaleiro-mercantil, afeito à era da Revolução Comercial que se avizinhava, que sabia combinar a busca pelos feitos de honra com as afeições aos dinheiros e aos ganhos. Não mais um cruzado, de elmo, lança e escudo, marchando para libertar o Santo Sepulcro, mas um capitão-do-comércio, emproando uma nau com canhões, atrás de lucros, debilitando o Crescente, inimigo da Cruz, atacando-o pela retaguarda. Outros tempos, outras armas. O palco da luta não seria mais só a costa norte do Mediterrâneo, o litoral do Marrocos, a Argélia, o Egito e a Palestina, mas as águas quentes do Oriente, os portos da terra dos marajás.

Gente ilustre: além do comandante-mór Pedro Alvares Cabral, fidalguíssimo, estavam a bordo Bartolomeu Dias que primeiro cruzara o cabo da Boa Esperança no sul da África, o “Capitão do Fim” como o chamou Fernando Pessoa; Nicolau Coelho que acompanhara a expedição de Vasco da Gama à Índia dois anos antes; Duarte Pacheco, descobridor de terras na África e na América, e o franciscano D. Henrique, futuro inquisidor, que trazia consigo mais sete outros frades e seria quem oficiaria a 1ª Missa no Brasil. O substituo oficial de Cabral, seu vice-comandante, era um fidalgo espanhol, refugiado na corte de D.Manoel, chamado Sancho de Tovar.

O mar longo: a viagem de Cabral, segundo os registros, foi sem grandes sobressaltos. Perdeu-se apenas uma embarcação. No dia 14 de março a esquadra passou pela Grã- Canária e, no dia 22, pelas ilhas do Cabo Verde. Dali rumou para o oeste, enfrentando o “mar longo”, navegando nele por um mês. Após percorrer 660 léguas, uns 3600 quilômetros, “topamos alguns sinais de terra, sendo da dita ilha”, registrou o escrivão Caminha, viram abundantes plantas e algas, “que os mareantes chamam botelho” vindas da costa brasileira.

Era uma quarta-feira, 22 de abril de 1500, quando batizaram de Monte Pascoal a primeira elevação que avistaram do mar, por ser o oitavo dia da Páscoa cristã, e a terra, segundo Caminha, de “a terra da Vera Cruz”. O relato mostra que não houve surpresa por parte da tripulação ou dos comandantes com o “achamento”. Indicam isso sim que eles tinha certeza que encontrariam terra em algum ponto na atravessia do mar longo (que pode-se entender como o mar que separa a costa africana da brasileira).

A franja de litoral que lhes coube desembarcar estava, como verificou-se posteriormente, dentro dos limites estabelecidos aos lusos pelo Tratado de Tordesilhas, que a partir das 370 léguas das ilhas de Cabo Verde, dividiu o mundo a ser desbravado entre os dois reinos Iberos, acertado pelo Papa Alexandre VI em 1494.

Na praia: na reunião feita a bordo do navio capitania, ancorada na boca do Rio Frade, no estado da Bahia de hoje, decidiu-se enviar para a praia a Nicolau Coelho, um veterano que seguira Vasco da Gama. Na sua companhia foi um tradutor, um judeu de nome Gaspar da Gama, por dominar alguma coisa de árabe e outros idiomas exóticos, pois os chegados pensavam ser costa indiana.

Mal o batel encalhou na praia foi recebido pacificamente por 18 homens, que como descreveu-os o escrivão Pero Vaz de Caminha, eram “ pardos, maneira de avermelhados, nus, sem nenhuma cobertura,....muito rígidos, armados de arco e flechas”. Imediatamente, recorrendo a sinais, trocaram presentes. Os lusos deram-lhes “um barrete vermelho, uma carapuça de linho e um sombreiro preto”, recebendo um cocar de penas muitos coloridas e cumpridas.

Dois mundos: Espantaram-se os navegantes com os pequenos ossos que os nativos traziam atravessados nos lábios - “os bicos de ossos nos beiços” - e por sua inocência e ausência de pudor. Eram Adão antes de provar o fruto proibido. Naquele curto instante, nos estreitos limites da praia baiana, à sombra das palmeiras, dois mundos separados por séculos, por milênios, se encontraram. Duas eras encararam-se frente a frente: o ser pré-histórico da Idade da Pedra viu-se, sem o saber, perante o seu futuro conquistador, o ser da Idade do Ferro, ali armado de mosquete e espada. O homem cor de cobre, o tupi, cederia nos séculos vindouros tudo aquilo que o cercava ao lusitano, o brancarrão barbudo desembarcado, vindo da distante Europa.

Descrevendo os nativos, disse deles AméricoVespúcio numa das suas Cartas:

“Não tem lei, nem fé nenhuma. E vivem segundo a natureza. Não conhecem a imortalidade da Alma, não têm, entre ele bens próprios, porque tudo é comum: não têm limites de Reinos, e de Províncias; não têm Rei; não obedecem a ninguém. Cada um é senhor de si; nem favor , nem graça a qual não lhes é necessária, porque não reina entre eles a cobiça: moram em comum em casas feitas à moda de cabanas muito grandes, e para gente que não têm ferro, nem outro metal qualquer, se pode dizer que suas cabanas, ou casas maravilhosas, porque eu vi casas que são longas 220 passos, e largas 30, e habilmente fabricadas, e numa destas casas estavam 500, ou 600 almas. Dormem em redes estendidas de algodão, estendidas noa r sem outra cobertura; comem sentado no solo...raízes de árvores, raízes de ervas, e frutas muito boas, inúmeros peixes...São gente muito prolífera; não têm heranças, porque não têm bens próprios...” - (Carta a Lourenço de Medici, 1502)

Porto Seguro: reembarcados, levantaram âncora e navegaram mais acima, para um lugar mais protegido, o Porto Seguro, onde foi rezada a 1ª Missa no Domingo do dia 26 de abril de 1500. A terra recém achada foi considerada como uma dádiva divina colocada ao alcance de D. Manuel. A cerimônia religiosa, oficiada por D. Henrique de Coimbra, consagrou-a como espaço a ser convertido e integrado à Cristandade. Depois de mais alguns encontros onde estiveram presentes mais de 400 indígenas, curiosos perante a chegada daquela gente estranha, a expedição fez-se novamente ao mar no dia 2 de maio de 1500, retomando a viagem para a Índia. Não ficaram mais de dez dias na Terra dos Papagaios, como foi popularmente chamada. Além de dois degredados que aqui foram deixados aos prantos, dois grumetes fugiram de bordo e nunca mais foram vistos. Eram, esses anônimos, os primeiros brasileiros.


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