De tanto falarem em Chacrinha, liguei a televisão para seu programa que me pareceu durar mais que uma hora.
E fiquei pasma.
Dizem-me que esse programa é atualmente o mais popular. Mas como? O
homem tem qualquer coisa de doido, e estou usando a palavra doido no seu
verdadeiro sentido. O auditório também cheio. É um programa de
calouros, pelo menos o que eu vi. Ocupa a chamada hora nobre da
televisão. O homem se veste com roupas loucas, o calouro apresenta o seu
número e, se não agrada, a buzina do Chacrinha funciona, despedindo-o.
Além do mais, Chacrinha tem algo de sádico: sente-se o prazer que tem em
usar a buzina. E suas gracinhas se repetem a todo o instante —
falta-lhe imaginação ou ele é obcecado.
E os calouros? Como é
deprimente. São de todas as idades. E em todas as idades vê-se a ânsia
de aparecer, de se mostrar, de se tornar famoso, mesmo à custa do
ridículo ou da humilhação. Vêm velhos até de setenta anos. Com exceções,
os calouros são de origem humilde, têm ar de subnutridos. E o auditório
aplaude. Há prêmios em dinheiro para os que acertarem através de cartas
o número de buzinadas que Chacrinha dará; pelo menos foi assim no
programa que vi. Será pela possibilidade da sorte de ganhar dinheiro,
como em loteria, que o programa tem tal popularidade? Ou será por
pobreza de espírito de nosso povo? Ou será que os telespectadores têm em
si um pouco de sadismo que se compraz no sadismo de Chacrinha?
Não entendo. Nossa
televisão, com exceções, é pobre, além de superlotada de anúncios. Mas
Chacrinha foi demais. Simplesmente não entendi o fenômeno. E fiquei
triste, decepcionada: eu quereria um povo mais exigente.”
Crônica publicada em 1967 pelo Jornal do Brasil.
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