Soneto de fidelidade
(Vinicius de Moraes)
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(Vinicius de Moraes)
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Nos dois primeiros quartetos do soneto de Vinicius de Moraes, delineia-se a ideia de que o poeta:
a) não acredita no amor como entrega total entre
duas pessoas.
b) acredita que, mesmo amando muito uma pessoa, é
possível apaixonar-se por outra e trocar de amor.
c) entende que somente a morte é capaz de findar
com o amor de duas pessoas.
d) concebe o amor como um sentimento intenso a ser
compartilhado, tanto na alegria quanto na tristeza.
e) vê, na angústia causada pela ideia da morte, o
impedimento para as pessoas se entregarem ao amor.
No segundo verso do poema, no qual o poeta mostra
como tratará o seu amor, as expressões "com tal zelo",
"sempre" e "tanto" dão, respectivamente, ideia de:
a) modo - intensidade - modo.
b) modo - tempo - intensidade.
c) tempo - tempo - modo.
d) finalidade - tempo - modo.
e) finalidade - modo - intensidade.
Texto para as questões 3 e 4.
A mulher que passa
Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! Como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pêlos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?
Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que boia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! Como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pêlos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?
Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que boia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.
Vinicius de Moraes. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, pp.88-89.
A figura da mulher como musa, fonte de inspiração do poeta, é um traço de permanência na literatura brasileira. Seguem-se abaixo trechos de poemas escritos por diferentes autores, em distintos períodos literários, sobre o sentimento que a musa inspiradora provoca no poeta. Aponte a única opção cuja imagem da mulher se distancia por completo da observada no poema de Vinicius de Moraes:
a) "Anjo no nome, Angélica na cara! / Isso é
ser flor, e Anjo juntamente: / Ser Angélica flor, e Anjo florente, / Em quem,
senão em vós, se uniformara " (Gregório de Matos).
b) "Ai Nise amada! se este meu tormento, / Se
estes meus sentidíssimos gemidos / Lá no teu peito, lá nos teus ouvidos / Achar
pudessem brando acolhimento" (Cláudio Manuel da Costa).
c) "Se uma lágrima as pálpebras me inunda, /
Se um suspiro nos seios treme ainda / É pela virgem que sonhei... que nunca /
Aos lábios me encostou a face linda!" (Álvares de Azevedo).
d) "A primeira vez que vi Teresa / Achei que
ela tinha pernas estúpidas / Achei também que a cara parecia uma perna"
(Manuel Bandeira).
e) "E à noite, ai! como em mal sofreado
anseio, / Por ela, a ainda velada, a misteriosa / Mulher, que nem conheço,
aflito chamo!" (Alberto de Oliveira).
Com relação ao poema de Vinicius de Moraes, podemos
afirmar que:
a) o uso da antítese, presente no poema, constitui
uma marca da tradição do barroco.
b) a referência a uma natureza bucólica acentua a
valorização do pastoralismo neoclássico.
c) a utilização da rima e da métrica regular
aproxima o poema da preocupação formal do parnasianismo.
d) o eu lírico busca uma visão mística e objetiva
do sentimento amoroso, típica da estética simbolista.
e) a incorporação das conquistas modernistas da
fase heroica acentua no texto o humor e a ironia.
Mensagem à Poesia
Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.
Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.
Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Vinicius de Moraes, Antologia Poética.
a) No trecho, o poeta expõe alguns dos motivos que o impedem de ir ao encontro da poesia. A partir da observação desses motivos, procure deduzir a concepção dessa poesia ao encontro da qual o poeta não poderá ir: como se define essa poesia? Quais suas características principais? Explique sucintamente.
b) Na "Advertência", que abre sua Antologia Poética, Vinicius de Moraes declarou haver "dois períodos distintos", ou duas fases, em sua obra. Considerando-se as características dominantes do trecho, a qual desses períodos ele pertence? Justifique sua resposta.
Questão 1
E o olhar estaria ansioso esperando
e a cabeça ao sabor da
mágoa balançado
e o coração fugindo e o
coração voltando
e os minutos passando e os
minutos passando...
(Vinícius de Moraes, O olhar para trás)
A figura de linguagem que predomina nestes versos é:
a) A metáfora, expressa pela analogia entre o ato de esperar e o ato de balançar.
b) A sinestesia, manifestada pela referência à
interação dos sentidos: visão e coração no momento de espera.
c) O polissíndeto, caracterizado pela
repetição da conjunção coordenada aditiva e para conotar a
intensidade da crescente sensação de ansiedade contraditória do ato de esperar.
intensidade da crescente sensação de ansiedade contraditória do ato de esperar.
d) O pleonasmo, marcado pela repetição desnecessária da
conjunção coordenada sindética aditiva e.
e) O paradoxo, expresso pela contradição das ações
manifestadas pelos verbos no gerúndio.
Questão 2
Soneto de fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
(Vinicius de
Moraes)
Nos dois primeiros quartetos do soneto de Vinicius de Moraes, delineia-se a ideia de que o poeta
a) não acredita no amor como entrega total entre duas
pessoas.
b) acredita que, mesmo amando muito uma pessoa, é possível
apaixonar-se por outra e trocar de amor.
c) entende que somente a morte é capaz de findar com o amor
de duas pessoas.
d) concebe o amor como um sentimento intenso a ser
compartilhado, tanto na alegria quanto na tristeza.
e) vê, na angústia causada pela ideia da morte, o impedimento
para as pessoas se entregarem ao amor.
Questão 3
São características da obra poética de Vinicius de
Moraes, exceto:
a) Sua obra é comumente dividida em duas fases: a primeira é
transcendental, resultante de sua fé cristã. A segunda é marcada pelos
movimentos de aproximação do mundo material.
b) Além de ter demonstrado interesse pela poesia sensual,
Vinicius demonstrou também interesse pela poesia social.
c) Na década de 60, afastou-se da Literatura e passou a
dedicar-se à música, tornando-se o mais conhecido e amado poeta brasileiro.
d) Sua obra poética foi influenciada pelo Simbolismo.
Cultivou também uma poesia reflexiva, de fundo filosófico, abordando temas como
a transitoriedade da vida.
e) A partir da década de 1940, sua linguagem ficou mais
simples, e o verso livre passou a ser mais empregado, tornando a comunicação
mais direta e dinâmica.
Questão 4
Cronologicamente, na história da Literatura Brasileira,
Vinicius de Moraes está associado
a) à terceira fase do Romantismo.
b) à primeira geração do Modernismo.
c) ao Simbolismo.
d) ao Concretismo.
e) à segunda geração do Modernismo.
Questão 5
São de autoria de Vinicius de Moraes os seguintes poemas:
a) A rosa de Hiroshima e Soneto de Fidelidade.
b) Congresso Internacional do Medo e Quadrilha.
c) Não há vagas e Traduzir-se.
d) Canção do dia de sempre e A rua dos
cataventos.
Respostas
Resposta Questão 1
Alternativa “c”.
Resposta Questão 2
Alternativa “d”.
Resposta Questão 3
Alternativa “d”.
As características descritas fazem referência à obra literária de
Cecília Meireles.
Resposta Questão 4
Alternativa “e”.
Vinicius de Moraes, ao lado de nomes como Cecília Meireles, Jorge de Lima e
Murilo Mendes — considerados poetas espiritualistas —, está cronológica e
tematicamente associado à segunda geração modernista da poesia brasileira.
Resposta Questão 5
Alternativa “a”.
Os demais poemas são, respectivamente, de autoria de Carlos Drummond de
Andrade, Ferreira Gullar e Mario Quintana.
Vinícius de Moraes, ao longo de sua trajetória de poeta, permitiu-se
aderir a diferentes tendências estéticas, sejam anteriores ou contemporâneas à
sua obra. NÃO apresentam os traços da estética indicada os versos
transcritos em:
a) “E dentro das estruturas/ Via coisas,
objetos/ Produtos, manufaturas./ Via tudo o que fazia/ O lucro do seu patrão/ E
em cada coisa que via/ Misteriosamente havia/ A marca de sua
mão.” PARNASIANISMO
b) “O teu perfume, amada – em tuas cartas/
Renasce azul...– são tuas mãos sentidas!/ Relembro-as brancas, leves,
fenecidas/ Pendendo ao longo de corolas fartas.” ROMANTISMO
c) “Ah, jovens putas das tardes/ O que vos
aconteceu/ (...) Em vossas jaulas acesas/ Mostrando o rubro das presas/ Falando
coisas do amor/ E às vezes cantais uivando/ Como cadelas à lua/ Que em vossa
rua sem nome/ Rola perdida no céu” NATURALISMO
d) “– Era uma vez um poeta/ No morro do
Cavalão/ Tantas fez que a dor-de-corno/ Bateu com ele no chão/ Arrastou ele nas
pedras/ Espremeu seu coração/ Que pensa usted que saiu?/ Saiu cachaça e limão”
MODERNISMO
e) “Tensos/ Pela corda luminosa/ Que pende
invisível/ E cujos nós são astros/ Queimando nas mãos/ Subamos à tona/ do
grande mar de estrelas/ Onde dorme a noite/ Subamos” SIMBOLISMO
Soneto de devoção
Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica em meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! - uma cadela
Talvez... - mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
(Vinicius de Moraes)
Sobre o poema de Vinicius de Moraes é correto
afirmar:
a) Predominância de elementos místicos e
religiosos, características da primeira fase da poesia de Vinicius de Moraes.
b) Presença do erotismo, recriado a partir de uma
forma clássica e de uma linguagem crua e direta.
c) Emprego de uma linguagem direta e quase didática
para manifestar solidariedade às classes oprimidas e também à mulher.
d) Apresenta elementos que revelam grande
preocupação com a condição humana e o desejo de superar, através da
transcendência mística, as sensações de culpa do pecado do amor carnal.
Vinicius de Moraes está, temática e
cronologicamente, vinculado ao
a) Parnasianismo.
b) Romantismo.
c) Modernismo.
d) Simbolismo.
e) Neossimbolismo.
COMPLEMENTO – 2ª FASE DO MODERNISMO.