domingo, 23 de agosto de 2015

Herança Roupa Nova




Meus pais me deram a vida então
Pra ser livre e poder me expressar
Nós com os punhos de cidadão
Com direitos de não aceitar
A guerra nuclear, sorrisos nunca mais
Nossos filhos correm o risco de ver
O início, a criação, de um mundo bem melhor
De homens que pensam nos homens
Não só no poder
Cadê o gênio da invenção
Que sumiu e a semente ficou
Não depender de uma decisão
Um botão e sonho acabou
Hiroshima flor, mais uma vez não
Nuvens, tempestades de radiação
Onde estão vocês, me digam por favor
Homens que só pensem nos homens, na vida e no amor
Ambição demais
Aos loucos satisfaz
Todo esse cenário terrível de ver
E que venha a paz
Abaixo os ideais
De homens que não sabem que pode ser tarde demais
Wedn'sday morning at five o'clock
as the day begins

terça-feira, 11 de agosto de 2015

José Mindlin - DO AMOR AOS LIVROS E SUAS LETRAS. 7 DE JANEIRO - DIA DO LEITOR

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
José Mindlin Academia Brasileira de Letras
Nome completo José Ephim Mindlin
Nascimento 8 de setembro de 1914
São Paulo,  São Paulo
Morte 28 de fevereiro de 2010 (95 anos)
São Paulo,  São Paulo
Nacionalidade  brasileiro
Ocupação Repórter, advogado, empresário, escritor e bibliófilo
José Ephim Mindlin (São Paulo, 8 de setembro de 1914 — São Paulo, 28 de fevereiro de 2010) foi um repórter, advogado, empresário, escritor e bibliófilo brasileiro.

Índice

Biografia

Carreiras não-literárias

Filho do dentista Ephim Mindlin e de Fanny Mindlin, judeus nascidos em Odessa, José começou a trabalhar aos 15 anos de idade como repórter no jornal O Estado de S. Paulo, o que, segundo ele, foi uma experiência muito importante para a sua formação1 . Posteriormente, José formou-se na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e advogou ainda por alguns anos até fundar a empresa Metal Leve, que mais tarde se tornou uma potência nacional no setor de peças para automóveis. José deixou a empresa em 1996. Posteriormente, entre outras atividades, presidiu a Sociedade de Cultura Artística.
De acordo com o jornalista Hélio Contreiras, pelo menos dois empresários se recusaram a colaborar na produção da estrutura repressiva da Operação Bandeirante, constituindo exceções: José Mindlin e Antônio Ermírio de Moraes.2 . O documentário Cidadão Boilesen entrevista Mindlin e o mesmo descreve como se deram os fatos.

Carreira literária e bibliofilia

Após sua aposentadoria do mundo empresarial, José pôde dedicar-se integralmente a uma paixão que tinha desde os 13 anos: colecionar livros raros. Seu primeiro livro foi o livro de 1740 Discours sur l'Histoire universelle de Jacques-Bénigne Bossuet. Ao completar 95 anos, acumulava um acervo de aproximadamente 40 mil volumes, incluindo obras de literatura brasileira e portuguesa, relatos de viajantes, manuscritos históricos e literários (originais e provas tipográficas), periódicos, livros científicos e didáticos, iconografia e livros de artistas (gravuras). Foi então considerada a maior biblioteca pessoal e também a mais importante do País1 .

Lorbeerkranz.pngImortal da Academia Brasileira de Letras

Em 20 de junho de 2006, José foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras para ocupar a cadeira número 29, sucedendo a Josué Montello. Após saber da vitória na eleição, o renomado escritor declarou: "De certa forma, corôa uma vida dedicada aos livros"3 . No mesmo ano, decidiu doar todas as obras brasileiras da vasta coleção pessoal à Universidade de São Paulo (USP)4 . A partir de então, a biblioteca passou a ser chamada "Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin". O prédio da biblioteca, situado no campus da USP, ficou pronto em 23 de março de 2013 e é aberto ao público para visitação gratuita desde 25 de março de 20135 6 7 .
Cquote1.svg Nunca me considerei o dono desta biblioteca. Eu e Guita [esposa já falecida de Mindlin] éramos os guardiães destes livros que são um bem público. Cquote2.svg
José Mindlin 5

Morte

Na manhã de 28 de fevereiro de 2010, José faleceu aos 95 anos por falência múltipla de órgãos na cidade de São Paulo, após um mês internado no Hospital Albert Einstein8 .

Referências



  • Henrique Veltman, "Mindlin, um imortal", Educar para Crescer, 01/03/2010. Acesso: 31 de março, 2013

  • Jornal Opção: “Não acredito no fim dos jornais” - Jornal Opção - 12 de julho de 2012, acesso: 5/9/2015

  • "José Mindlin", Academia Brasileira de Letras

  • "José Mindlin começa a esvaziar biblioteca", Folha Online: Ilustrada, 22/09/2008

  • "José Mindlin: fascinado pela capacidade de inovar", Estadão.com.br

  • "Brasiliana USP: A Biblioteca Mindlin na USP", Brasiliana USP

  • "Biblioteca Brasiliana, na USP, abre hoje para público", Estadão.com.br, 25/03/2013


    1. "Morre aos 95 o bibliófilo José Mindlin", Folha Online: Ilustrada, 28/02/2010

    Ligações externas


    Precedido por
    Josué Montello
    Lorbeerkranz.png ABL - quinto acadêmico da cadeira 29
    2006 — 2010
    Sucedido por
    Geraldo Holanda Cavalcanti

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    terça-feira, 4 de agosto de 2015

    OCUPAÇÃO ELOMAR - CENTRO/ESPAÇO CULTURAL ITAÚ 2015 - SP

     
    A Pergunta (do "O Tropeiro Gonsalin")
    Elomar Figueira Melo
    exibições
    3.889

    Ô Quilimero Assusta meu irirmão
    Iantes mêrmo que nóis dois saudemo
    Eu te pregunto naquele refrão
    Qui na fartura nóis sempre cantemo
    Na catinga tá chuveno
    Ribeirão istão incheno
    Me arresponda mei irirmão
    Cuma o povo de lá tão
    Só a terra que você dexo
    Quinda tá lá num ritirou-se não
    Os povo as gente os bicho as coisa tudo
    Uns ritirou-se in pirigrinação
    Os òtro os mais velho mais cabiçudo
    Voltaro pru qui era pru pó do chão
    Adispois de cumê tudo
    Cumêr' precata surrão
    Cumêr' coro de rabudo
    Cumêr' cururu rodão
    E as cacimba do ri gavião
    Já deu mais de duas cova d' um cristão
    Inté aquela a da cara fêa
    Se veno só dexô a terra alêa
    Foi nas pidrinha cova de serêa
    Vê sua madrinha
    E vei de mão c'ua vea
    Na cantiga morreu tudo
    Qui nem preciso caxão
    Meu cumpadre João Barbudo
    Num cumpriu obrigação
    Vai prá mais de duas lua
    Que meu pai mandô eu no Nazaré
    Buscá u'a quarta de farinha
    Eu e o irmão Zé Bento vinha andano a pé
    Mãe lua magrinha qui está no céu
    Será qui cuano eu cheguo in minha terra
    Ainda vou encontrar o que é meu
    Será que Deus do céu, aqui na terra
    De nosso povo intonce se isqueceu
    Na catinga morreu tudo
    Qui nem percisô caxão
    Meu cumpadre João Barbudo
    Num cumpriu a obrigação
    Udo aõ udo aõ

    Da Timidez (Luis Fernando Verissimo)

    Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal, que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção? Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele sabe. É como no paradoxo psicanalítico, só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.
    Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos são apenas os mais salientes. Defendo a tese de que ninguém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim ninguém descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre que-bram na concentração. Segundo minha tese, dentro de cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder e dentro de cada tímido existe um exibido gritando "Não me olhem! Não me olhem!" só para chamar a atenção.
    O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando entra numa sala, todas as atenções se voltam para ele e para sua timidez espetacular. Se cochicham, é sobre ele. Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num lugar. Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo.
    O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a palavra.

    A B C , Luis Fernando Veríssimo




        Quando a gente aprende a ler, as letras, nos livros, são grandes. Nas cartilhas - pelo menos nas cartilhas do meu tempo - as letras eram enormes. Lá estava o A, como uma grande tenda. O B, com seu grande busto e sua barriga ainda maior. O C, sempre pronto a morder a letra seguinte com a sua grande boca. O D, com seu ar próspero de grão-senhor. Etc. Até o Z, que sempre me parecia estar olhando para trás. Talvez porque não se convencesse que era a última letra do alfabeto e quisesse certificar-se de que atrás não vinha mais nenhuma.
        As letras eram grandes, claro, para que decorássemos a sua forma. Mas não precisavam ser tão grandes. Que eu me lembre, minha visão na época era perfeita. Nunca mais foi tão boa. E no entanto os livros infantis eram impressos com letras graúdas e entrelinhas generosas. E as palavras eram curtas. Para não cansar a vista.
        À medida que a gente ia crescendo, as letras iam diminuindo. E as palavras, aumentando. Quando não se tem mais uma visão de criança é que se começa, por exemplo, a ler jornal, com seus tipos miúdos e linhas apertadas que requerem uma visão de criança. Na época em que começamos a prestar atenção em coisas como notas de pé de página, bulas de remédio e subcláusulas de contrato, já não temos mais metade da visão perfeita que tínhamos na infância, e esbanjávamos nas bolas da Lulu e no corre-corre  do Faísca.
     Chegamos à idade de ler grossos volumes em corpo 6 quando só temos olhos para as letras gigantescas, coloridas e cercadas de muito branco, dos livros infantis. Quanto mais cansada a vista, mais exigem dela. Alguns recorrem à lente de aumento para seccionar as grandes palavras em manejáveis monossílabos infantis. E para restituir às letras a sua individualidade soberana, como tinham na infância.
    O E, que sempre parecia querer distância das outras. O R! Todas as letras tinham pé, mas o R era o único que chutava. O V, que aparecia em várias formas: refletido na água (o X), de muletas (o M), com o irmão siamês(o W). O Q, que era um O com a língua de fora.
    De tanto ler palavras, nunca mais reparamos nas letras. E de tanto ler frases, nunca mais notamos as palavras, com todo o seu mistério. Por exemplo: pode haver palavra mais estranha do que "esdrúxulo"? É uma palavra, sei lá. Esdrúxula. Ainda bem que nunca aparecia nas leituras da infância, senão teria nos desanimado. Eu me recusaria a aprender uma língua, se soubesse que ela continha a palavra "esdrúxulo". Teria fechado a cartilha e ido jogar bola, para sempre. As cartilhas, com sua alegre simplicidade, serviam para dissimular os terrores que a língua nos reservava. Como "esdrúxulo". Para não falar em "autóctone". Ou, meu Deus, em "seborréia'!
    Na verdade, acho que as crianças deviam aprender a ler nos livros do Hegel e em longos tratados de metafísica. Só elas têm a visão adequada à densidade do texto, o gosto pela abstração e tempo disponível para lidar com o infinito. E na velhice, com a sabedoria acumulada numa vida de leituras, com as letras ficando progressivamente maiores à medida que nossos olhos se cansavam, estaríamos então prontos para enfrentar o conceito básico de que vovô vê a uva, e viva o vovô.
    Vovô vê a uva! Toda a nossa inquietação, nossa perplexidade e nossa busca terminariam na resolução deste enigma primordial. Vovô. A uva. Eva. A visão. Nosso último livro seria a cartilha. E a nossa última aventura intelectual, a contemplação enternecida da letra A. Ah, o A, com suas grandes pernas abertas.

    in Comédias para se ler na escola, de Luís Fernando Veríssimo

    Poema Mais Ou Menos De Amor: - Luis Fernando Verissimo


    Eu queria, senhora,
    ser o seu armário,
    e guardar seus tesouros
    como um corsário.
    Que coisa louca:
    ser seu guarda-roupa!
    Alguma coisa sólida,
    circunspecta e pesada
    nessa sua vida tão estabanada.
    Um amigo de lei
    (de que madeira eu não sei).
    Um sentinela do seu leito
    - com todo o respeito.
    Ah, ter gavetinhas
    para suas argolinhas.
    Ter um vão
    para o seu camisolão
    e sentir o seu cheiro,
    senhora,
    o dia inteiro.
    Meus nichos
    como bichos
    engoliriam suas meias-calças,
    seus sutiãs sem alças.
    E tirariam nacos
    dos seus casacos.
    Ah, ter no colo,
    como gatos,
    os seus sapatos.
    E no meu chão,
    como trufas,
    suas pantufas...
    Seus echarpes,
    seus jeans,
    seus longos e afins.
    Seus trastes
    e contrastes.
    Aquele vestido com asa
    e aquele de andar em casa.
    Um turbante antigo.
    Um pulôver amigo.
    Bonecas de pano.
    Um brinco cigano.
    Um chapéu de aba larga.
    Um isqueiro sem carga.
    Suéteres de lã
    e um estranho astracã.
    Ah, vê-Ia se vendo
    no meu espelho,
    correndo.
    Puxando,
    sem dores,
    os meus puxadores.
    Mexendo com o meu interior
    - à procura de um pregador.
    Desarrumando o meu serpor
    um prêt-à porter...
    Ser o seu segréto,
    senhora,e o seu medo.
    E sufocar,
    com agravantes,
    todos os seus amantes.

    Luis Fernando Verissimo
    In: Comédias para ler na Escola

    O recital – Luís Fernando Veríssimo

    Uma boa maneira de começar um conto é imaginar uma situação rigidamente formal — digamos, um recital de quarteto de cordas — e depois começar a desfiá-la, como um pulôver velho. Então vejamos. Um recital de quarteto de cordas.

    O quarteto entra no palco sob educados aplausos da seleta platéia. São três homens e uma mulher.  A mulher, que é jovem e bonita, toca viola. Veste um longo vestido preto. Os três homens estão de fraque.  Tomam os seus lugares atrás das partituras. Da esquerda para a direita: um violino, outro violino, a viola e o violoncelo. Deixa ver se não esqueci nenhum detalhe. O violoncelista tem um grande bigode ruivo. Isto pode se revelar importante mais tarde, no conto. Ou não.
    Os quatro afinam seus instrumentos. Depois, silêncio. Aquela expectativa nervosa que precede o início de qualquer concerto. As últimas tossidas da platéia. O primeiro violinista consulta seus pares com um olhar discreto. Estão todos prontos, o violinista coloca o instrumento sob o queixo e posiciona seu arco. Vai começar o recital. Nisso…
    Nisso, o quê? Qual a coisa mais insólita que pode acontecer num recital de um quarteto de cordas? Passar uma manada de zebus pelo palco, por trás deles? Não. Uma manada de zebus passa, parte da platéia pula das suas poltronas e procura as saídas em pânico, outra parte fica paralisada e perplexa, mas depois tudo volta ao normal. O quarteto, que manteve-se firme em seu lugar até o último zebu — são profissionais e, mesmo, aquilo não pode estar acontecendo — começa a tocar. Nenhuma explicação é pedida ou oferecida. Segue o Mozart.
    Não. É preciso instalar-se no acontecimento, como a semente da confusão, uma pequena incongruência.  Algo que crie apenas um mal-estar, de início e chegue lentamente, em etapas sucessivas, ao caos. Um morcego que posa na cabeça do segundo violinista durante um pizzicato. Não. Melhor ainda. Entra no palco um homem carregando uma tuba.
    Há um murmúrio na platéia. O que é aquilo? O homem entra, com sua tuba, dos bastidores. Posta-se ao lado do violoncelista. O primeiro violinista, retesado como um mergulhador que subitamente descobriu que não tem água na piscina, olha para a tuba entre fascinado e horrorizado. O que é aquilo? Depois de alguns instantes em que a tensão no ar é como a corda de um violino esticada ao máximo, o primeiro violinista fala:
    — Por favor…
    — O quê? — diz o homem da tuba, já na defensiva. — Vai dizer que eu não posso ficar aqui?
    — O que o senhor quer?
    — Quero tocar, ora. Podem começar que eu acompanho.
    Alguns risos na platéia. Ruídos de impaciência. Ninguém nota que o violoncelista olhou para trás e quando deu com o tocador de tuba virou o rosto em seguida, como se quisesse se esconder. O primeiro violinista continua:
    — Retire-se, por favor.
    — Por quê? Quero tocar também.
    O primeiro violinista olha nervosamente para a platéia. Nunca em toda a sua carreira como líder do quarteto teve que enfrentar algo parecido. Uma vez um mosquito entrou na sua narina durante uma passagem de Vivaldi.   Mas nunca uma tuba.
    — Por favor. Isto é um recital para quarteto de cordas. Vamos tocar Mozart.  Não tem nenhuma parte para a tuba.
    — Eu improviso alguma coisa. Vocês começam e eu faço o um-pá-pá.
    Mais risos na platéia. Expressões de escândalo. De onde surgiu aquele homem com uma tuba? Ele nem está de fraque. Segundo algumas versões veste uma camisa do Vasco. Usa chinelos de dedo. A violista sente-se mal.   O violinista ameaça chamar alguém dos bastidores para retirar o tocador de tuba a força. Mas ele aproxima o bocal do seu instrumento dos lábios e ameaça:
    — Se alguém se aproximar de mim eu toco pof!
    A perspectiva de se ouvir um pof naquele recinto paralisa a todos.
    — Está bem — diz o primeiro violinista. — Vamos conversar.  Você, obviamente, entrou no lugar errado.   Isto é um recital de cordas. Estamos nos preparando para tocar Mozart. Mozart não tem um-pá-pá.
    — Mozart não sabe o que está perdendo — diz o tocador de tuba, rindo para a platéia e tentando conquistar a sua simpatia.
    Não consegue. O ambiente é hostil. O tocador de tuba muda de tom. Torna-se ameaçador:
    —  Está bem, seus elitistas. Acabou. Onde é que vocês pensam que estão, no século XVIII? Já houve 17 revoluções populares depois de Mozart. Vou confiscar estas partituras em nome do povo. Vocês todos serão interrogados. Um a um, pá-pá.
    Torna-se suplicante:
    — Por favor, só o que eu quero é tocar um pouco também. Eu sou humilde. Não pude estudar instrumento de cordas. Eu mesmo fiz esta tuba, de um Volkswagen velho. Deixa…
    Num tom sedutor, para a violista:
    — Eu represento os seus sonhos secretos. Sou um produto da sua imaginação lúbrica, confessa. Durante o Mozart, neste quarteto anti-séptico, é em mim que você pensa. Na minha barriga e na minha tuba fálica. Você quer ser violada por mim num alegro assai, confessa…
    Finalmente, desafiador, para o violoncelista:
    — Esse bigode ruivo. Estou reconhecendo. É o mesmo bigode que eu usava em 1968. Devolve!
    O tocador de tuba e o violoncelista atracam-se. Os outros membros do quarteto entram na briga. A platéia agora grita e pula. É o caos! Simbolizando, talvez, a falência final de todo o sistema de valores que teve início com o iluminismo europeu ou o triunfo do instinto sobre a razão ou ainda, uma pane mental do autor. Sobre o palco, um dos resultados da briga é que agora quem está com o bigode ruivo é a violista. Vendo-a assim, o tocador de tuba pára de morder a perna do segundo violinista, abre os braços e grita: “Mamãe!”
    Nisso, entra no palco uma manada de zebus.

    TEXTO "SIGLAS" de LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

    SIGLAS
    Luís Fernando Veríssimo


    - Bota aí: “P”
    - “P”?
    - De “Partido”.
    - Ah.
    - Nossa proposta qual é? De união, certo? Acho que a palavra “União” deve constar do nome.
    - Certo. Partido de União...
    - Mobilizadora!
    - Boa! Dá a ideia de ação, de congraçamento dinâmico. Partido da União Mobilizadora. Como é que fica a sigla?
    - PUM.
    - Não sei não...
    - É. Vamos tentar outro. Deixa ver. “P”...
    - “P” é tranquilo.
    - Acho que “Social” tem que constar.
    - Claro. Partido Social...
    - Trabalhista?
    - Fica PST. Não dá.
    - É. Iam acabar nos chamando de “Ei, você”.
    - E mesmo “trabalhista”, não sei. Alguém aqui é trabalhista?
    - Isso é o de menos. Vamos ver. “P”...
    - Quem sabe a gente isquece o “P”?
    - É. O “P” atrapalia. Bota “A”, de Aliança. Aliança Inovadora...
    - AI.
    - Que foi?
    - Não. A sigla. Fica AI.
    - Espera. Eu ainda não terminei. Alianssa Inovadora... de Arregimentação Institucional.
    - AIAI... Sei não.
    - É. Pode ser mal enterpretado.
    - Vanguarda Conservadora?
    - Você enlouqueceu? Fica VC.
    - Aliança Republicana de Renovação do Estado.
    - ARRE!
    - O quê?
    - Calma.
    - Espera aí, pessoal. Quem sabe a gente define a posição ideológica do partido antes de pensar na sigla? Qual é, exatamente, a nossa posição?
    - Bom, eu diria que estamos entre a centro-esquerda e a centro-direita.
    - Então é no centro.
    - Também não vamos ser radicais...
    - Nós somos a favor da reforma agrária?
    - Somos, desde que não toquem na terra.
    - Aceitaremos qualquer coalizão partidária para impedir a propagação do comunismo no Brasil.
    - Inclusive com o PCB e o PC do B?
    - Claro.
    - Não devemos ter medo de acordos e alianças. Afinal, um partido faz pactos políticos por uma razão mais alta.
    - Exato. A de chegar ao poder e esquecer os pactos que fez.
    - Partido Ecumênico Republicano Unido.
    - PERU?
    - Movimento Institucionalista Alerta e Unido.
    - MIAU?
    - Que tal KIM?
    - O que significa?
    - Nada, eu só acho o nome bonito.
    - MUMU. Movimento Ufanista Mobilização e União.
    - MMM... Movimento Moderador Monarquista.
    - Mas nós somos republicanos.
    - Eu sei. Mas por uma boa sigla a gente muda.
    - TCHAU.
    - Hum, boa. Trabalho e Capital em Harmonia com Amor e União?
    - Não, é tchau mesmo.
    - Aonde é que você vai?
    - Abrir uma dissidência.

    SEGURANÇA - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO



    O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua segurança. Havia as mais belas casas, os jardins, os playgrounds, as piscinas, mas havia, acima de tudo, segurança. Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados.
    Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões pulavam os muros e assaltavam as casas.
    Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao longo do muro alto. Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. Os proprietários e seus familiares também. Não passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem os bebês.
    Mas os assaltos continuaram.
    Decidiram eletrificar os muros. Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão de guardas com ordens de atirar para matar.
    Mas os assaltos continuaram.
    Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas. Todas as janelas foram engradadas
    . Mas os assaltos continuaram.
    Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de casa o mínimo possível. Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no banco de trás do carro de um proprietário, com um revólver apontado para a sua nuca. Assaltaram a casa, depois saíram no carro roubado, com crachás roubados. Além do controle das entradas, passou a ser feito um rigoroso controle das saídas. Para sair, só com um exame demorado do crachá e com autorização expressa da guarda, que não queria conversa nem aceitava suborno.
    Mas os assaltos continuaram.
    Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema. Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos.
    E ninguém pode sair.
    Agora, a segurança é completa. Não tem havido mais assaltos. Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do garnde portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades da sua casa, olhando melancolicamente para a rua.
    Mas surgiu outro problema.
    As tentativas de fuga. E há motins constantes de condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade.
    A guarda tem sido obrigada a agir com energia.

    Palavreado por Luis Fernando Verissimo


    Gosto da palavra “fornida”. É uma palavra que diz tudo o que quer dizer. Se você lê que uma mulher é “bem fornida”, sabe exatamente como ela é. Não gorda mas cheia, roliça, carnuda. E quente. Talvez seja a semelhança com “forno”. Talvez seja apenas o tipo de mente que eu tenho.
    Não posso ver a palavra “lascívia” sem pensar numa mulher, não fornida mas magra e comprida. Lascívia, imperatriz de Cântaro, filha de Pundonor. Imagino-a atraindo todos os jovens do reino para a cama real, decapitando os incapazes pelo fracasso e os capazes pela ousadia.
    Um dia chega a Cântaro um jovem trovador, Lipídio de Albornoz. Ele cruza a Ponte de Safena e entra na cidade montado no seu cavalo Escarcéu. Avista uma mulher vestindo uma bandalheira preta que lhe lança um olhar cheio de betume e cabriolé. Segue-a através dos becos de Cântaro até um sumário - uma espécie de jardim enclausurado -, onde ela deixa cair a bandalheira. É Lascívia. Ela sobe por um escrutínio, pequena escada estreita, e desaparece por uma porciúncula. Lipídio a segue. Vê-se num longo conluio que leva a uma prótese entreaberta. Ele entra. Lascívia está sentada num trunfo em frente ao seu pinochet, penteando-se. Lipídio, que sempre carrega consigo um fanfarrão (instrumento primitivo de sete cordas), começa a cantar uma balada. Lascívia bate palmas e chama:
    - Cisterna! Vanglória!
    São suas escravas que vêm prepará-la para os ritos do amor. Lipídio desfaz-se de suas roupas - o sátrapa, o lúmpen, os dois fátuos - até ficar só de reles. Dirige-se para a cama cantando uma antiga minarete. Lascívia diz:
    - Cala-te, sândalo. Quero sentir o seu vespúcio junto ao meu passe-partout.
    Atrás de uma cortina, Muxoxo, o algoz, prepara seu longo cadastro para cortar a cabeça do trovador.
    A história só não acaba mal porque o cavalo de Lipídio, Escarcéu, espia pela janela na hora em que Muxoxo vai decapitar seu dono, no momento entregue aos sassafrás, e dá o alarme. Lipídio pula da cama, veste seu reles rapidamente e sai pela janela, onde Escarcéu o espera.
    Lascívia manda levantarem a Ponte de Safena, mas tarde demais. Lipídio e Escarcéu já galopam por motins e valiums, longe da vingança de Lascívia.
    *
    “Falácia” é um animal multiforme que nunca está onde parece estar. Um dia um viajante chamado Pseudônimo (não é o seu verdadeiro nome) chega à casa de um criador de falácias, Otorrino. Comenta que os negócios de Otorrino devem estar indo muito bem, pois seus campos estão cheios de falácias. Mas Otorrino não parece muito contente. Lamenta-se:
    - As falácias nunca estão onde parecem estar. Se elas parecem estar no meu campo é porque estão em outro lugar.
    E chora:
    - Todos os dias, de manhã, eu e minha mulher, Bazófia, saímos pelos campos a contar falácias. E cada dia há mais falácias no meu campo. Quer dizer, cada dia eu acordo mais pobre, pois são mais falácias que eu não tenho.
    - Lhe faço uma proposta - disse Pseudônimo. - Compro todas as falácias do seu campo e pago um pinote por cada uma.
    - Um pinote por cada uma? - disse Otorrino, mal conseguindo disfarçar o seu entusiasmo. - Eu devo não ter umas cinco mil falácias.
    - Pois pago cinco mil pinotes e levo todas as falácias que você não tem.
    - Feito.
    Otorrino e Bazófia arrebanharam as cinco mil falácias para Pseudônimo. Este abre o seu comichão e começa a tirar pinotes invisíveis e colocá-los na palma da mão estendida de Otorrino.
    - Não estou entendendo - diz Otorrino. - Onde estão os pintores?
    - Os pintores são como as falácias - explica Pseudônimo. - Nunca estão onde parecem estar. Você está vendo algum pinote na sua mão?
    - Nenhum.
    - É sinal de que eles estão aí. Não deixe cair.
    E Pseudônimo seguiu viagem com cinco mil falácias, que vendeu para um frigorífico inglês, o Filho and Sons. Otorrino acordou no outro dia e olhou com satisfação para o seu campo vazio. Abriu o besunto, uma espécie de cofre, e olhou os pinotes que pareciam não estar ali!
    Na cozinha, Bazófia botava veneno no seu pirão.
    *
    “Lorota”, para mim, é uma manicura gorda. É explorada pelo namorado, Falcatrua. Vivem juntos num pitéu, um apartamento pequeno. Um dia batem na porta. É Martelo, o inspetor italiano.
    - Dove está il tuo megano?
    - Meu quê?
    - Il fistulado del tuo matagoso umbráculo.
    - O Falcatrua? Está trabalhando.
    - Sei. Com sua tragada de perônios. Magarefe, Barroco, Cantochão e Acepipe. Conheço bem o quintal. São uns melindres de marca maior.
    - Que foi que o Falcatrua fez?
    - Está vendendo falácia inglesa enlatada.
    - E daí?
    - Daí que dentro da lata não tem nada. Parco manolo!
    Luis Fernando Verissimo
    In: Comédias para se ler na escola

    PUDOR - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

    Certas palavras nos dão a impressão de que voam, ao saírem da boca. "Sílfide", por exemplo. É dizer "Sílfide" e ficar vendo suas evoluções no ar, como as de uma borboleta. Não tem nada a ver com o que a palavra significa. "Sílfide", eu sei, é o feminino de "silfo", o espírito do ar, e quer mesmo dizer uma coisa diáfana, leve, borboleteante. Mas experimente dizer "silfo". Não voou, certo? Ao contrário da sua mulher, "silfo" não voa. Tem o alcance máximo de uma cuspida. "Silfo", zupt, plof. A própria palavra "borboleta" não voa, ou voa mal. Bate as asas, tenta se manter aérea mas choca-se contra a parede. Sempre achei que a palavra mais bonita da língua portuguesa é "sobrancelha". Esta não voa mas paira no ar, como a neblina das manhãs até ser desmanchada pelo sol. Já a terrível palavra "seborréia" escorre pelos cantos da boca e pinga no tapete.
    "Trilhão" era uma palavra pouco usada, antigamente. Uma pessoa podia nascer e morrer sem jamais ouvir a palavra "trilhão", ou só ouvi-la em vagas especulações sobre as estrelas do Universo. O "trilhão" ficava um pouco antes do infinito. Dizia-se "trilhão" em vez de se dizer "incalculável" ou "sei lá". Certa vez (autobiografia) tive de responder a uma questão de Geografia no colégio. Naquele tempo, a pior coisa do mundo era ser chamado a responder qualquer coisa no colégio. De pé, na frente dos outros e — o pior de tudo — em voz alta. Depois descobri que existem coisas piores, como a miséria, a morte e a comida inglesa. Mas naquela época o pior era aquilo. "Senhor Veríssimo!" Era eu. Era irremediavelmente eu. "Responda, qual é a população da China?" Eu não sabia. Estava de pé, na frente dos outros, e tinha que dizer em voz alta o que não sabia. Qual era a população da China? Com alguma presença de espírito eu poderia dizer: "A senhora quer dizer neste exato momento?", dando a entender que, como o que mais acontece na China é nascer gente, uma resposta exata seria impossível. Mas meu espírito não estava ali. Meu espírito ainda estava em casa, dormindo. "Então, senhor Veríssimo qual é a população da China?" E eu respondi:
    — Numerosa.
    Ganhei zero, claro. Mas "trilhão", entende, era sinônimo de "numeroso". Não era um número, era uma generalização. Você dizia "trilhão" e a palavra subia como um balão desamarrado, não dava tempo nem para ver a sua cor. E hoje não passa dia em que não se ouve falar em trilhões. O "trilhão" vai, aos poucos, se tornando nosso íntimo. É o mais novo personagem da nossa aflição. Quantos zeros tem um trilhão? Doze, acertei? Se os zeros fossem pneus, o trilhão seria uma jamanta daquelas de carregar gerador para usina atômica parada. Felizmente vem aí uma reforma e outra moeda, com menos zeros e mais respeito. Se não chegaríamos à desmoralização completa.
    — E o troco do meu tri?
    — Serve uma bala?
    Desconfio que o que apressará a reforma é a iminência do quatrilhão. "Quatrilhão" é pior que "seborréia". Depois de dizer "quatrilhão" você tem que pular para trás, senão ele esmaga os seus pés. E "quatrilhão" não é como, por exemplo, "otorrino", que cai no chão e corre para um canto. "Quatrilhão" cai, pesadamente, no chão e fica. Você tenta juntar a palavra do chão e ela quebra. Tenta remontá-la fica "trãoliqua" e sobra o agá. A mente humana, ou pelo menos a mente brasileira, não está preparada para o "quatrillião". As futuras gerações precisam ser protegidas do "quatrilhão". As reformas monetárias, quando vêm, são sempre para acomodar as máquinas calculadoras e o nosso senso do ridículo, já que caem os zeros mas nada, realmente, muda. A próxima reforma seria a primeira motivada, também, por um pudor lingüístico. No momento em que o "quatrilhão" se instalasse no nosso vocabulário cotidiano, mesmo que fosse só para descrever a dívida interna, alguma coisa se romperia na alma brasileira. Seria o caos.
    E "caos", você sabe. É uma palavra chiclé-balão. Pode explodir na nossa cara.

    Fonte
    Crónica, uma das 266 publicadas no livro "Comédias da Vida Pública", L&PM Editores, São Paulo.

    Comédias para se ler na escola


    Comédias para se ler na escola, de Luís Fernando Veríssimo


    Comédias para se Ler na Escola é uma antologia de crônicas de Luís Fernando Veríssimo organizada por Ana Maria Machado, leitora de carteirinha do autor. Ela releu durante meses textos do autor, e preparou uma seleção de crônicas capaz de despertar nos estudantes o prazer e a paixão pela leitura. O resultado pode ser conferido em Comédias para se ler na escola, uma rara e feliz combinação de talentos.
    O título do livro resulta da teoria do autor de que até pessoas que não são habituadas a ler obras literárias são capazes de se deliciar com elas. A obra, porém, é ideal para ser lida não só na escola, mas onde quer que se esteja, e para aqueles momentos em que se deseja ter um pouco de descontração.
    Em seu sensível texto de abertura, Ana Maria Machado observa: "Depois de ler este livro, duvido que algum jovem ainda seja capaz de dizer, sinceramente, que não curte ler. E, para não ficar achando que só gosta deste livro, que leia os outros do autor. Aposto que, em sua maioria, os novos leitores vão se viciar em livro e sair procurando outros textos, de outros autores. Com vontade de, um dia, chegar a escrever assim. Quem sabe? O Veríssimo nunca pensou que ia ser escritor quando crescesse. Seu negócio era mesmo um bom solo de saxofone, instrumento em que ainda arrasa, escondido. Mas com essa história de ser músico, desenvolveu tanto o ouvido que acabou assim: hoje ele ouve (e conta pra nós) até o que pensamos, sentimos e sonhamos em silêncio. Em qualquer idade."
    A coletânea de crônicas reúne 35 narrativas curtas trazendo o universo das histórias e personagens de Veríssimo. Dessa vez, o autor aparece sentado num banco escolar, arremessando um aviãozinho de papel.
    No livro Comédias para se ler na escola, podemos encontrar alguns exemplos de um trabalho que ora se debruça sobre a gramática da língua ora se esgueira pelos labirintos do discurso. Através de jogos lingüísticos e da ironia do autor, a vida surge esplendorosa diante de um leitor que se identifica com as idéias do escritor e que aguarda ansioso a oportunidade de ler novas crônicas.
    A seleção de Ana Maria Machado em Comédias para se ler na escola permite ao leitor mergulhar no universo das histórias e personagens de Veríssimo prestando atenção nos múltiplos recursos deste artesão das letras. A habilidade para os exercícios de linguagem ou de estilo pode ser conferida em crônicas como "Palavreado", "Jargão", "O ator" e "Siglas". A competência para desenvolver as comédias de erro está presente em "O Homem Trocado", "Suflê de Chuchu" e "Sozinhos". A mestria para criar pequenas fábulas, com moral não explícita, aparece em "A Novata", "Hábito Nacional" e "Pode Acontecer". A aptidão para resgatar memórias é a marca de "Adolescência", "A Bola" e "História Estranha". E, por fim, o dom para abordagens originais de temas recorrentes revela-se em "Da Timidez", "Fobias" e "ABC".
    Comédias para se ler na escola é cheio de situações inusitadas e escrito em uma linguagem com a qual até os menos adeptos da literatura se identificam. Foi reunida diversas crônicas humorísticas a respeito da vida alheia. O leitor é convidado a viajar entre as situações mais esquisitas no dia-a-dia de uma pessoa comum. As personagens fictícias deixam aqueles que lêem com vontade de perguntar: por que essas coisas não acontecem comigo?
    Como podemos perceber, o tema das crônicas é o cotidiano.
    O livro é dividido em seis partes conforme veremos a seguir.
    1. “Equívocos” - apresenta uma seleção de crônicas que põe a imaginação do leitor para funcionar. Situações quase surreais, como a do menino que vira super-herói em “A espada”, são diversão garantida para os que gostam de aventura.
    Crônicas de "Equívocos":
    A espada – Um garoto de 7 anos ganha uma espada misteriosa no dia de seu aniversário. Ele fala ao pai que agora era um “Thunder boy”. O pai não o leva a sério, mas se surpreende quando escuta um forte estrondo e vê seu filho cumprindo sua missão de “Thunder boy”.
    O marajá – Um marido, cansado das crises de histeria da mulher, D. Morgadinha, em relação à limpeza da casa, pede a um amigo que se finja de Marajá, a fim de que a mulher se esquecesse um pouco da mania de limpeza. Não dá certo, a mulher se apaixona pelo falso Marajá.
    O homem trocado – As desventuras de um homem que teve toda a vida trocada, desde seu nascimento. Agora, estava em um hospital para operar a apendicite e enganaram-se na cirurgia: trocaram-lhe o sexo.
    Suflê de chuchu – Duda, uma garota de classe média vai tentar a vida na Europa, porém não sabe fazer nada. Fica ligando para a mãe a fim de pedir-lhe explicações sobre assuntos domésticos.
    Sozinhos – Dois velhinhos roncadores que descobrem, sem querer, que os ladrões (ou a morte) invadiram sua casa.
    A foto – Família se reúne para tirar foto com o bisa e a bisa que já estão muito velhinhos. Como ninguém queria deixar de aparecer na foto, o velhinho se irrita, tira a foto da família e vai dormir.
    2. “Outros tempos” - faz uma incursão à juventude e mostra o quanto ela pode ser engraçada quando nos lembramos dela mais tarde.
    Crônicas de "Outros tempos":
    A bola – O garoto ganha uma bola e, obcecado por videogame não sabe o que fazer com ela. O pai se decepciona.
    História estranha – Um homem de quarenta anos se reconhece em uma criança que está brincando no parque. A criança também o identifica, eles se abraçam e o garoto pensa em como seria sentimental quando crescesse.
    Vivendo e... – O narrador começa a lembrar do que fazia na infância e percebe que já não é mais capaz nem de cuspir com a língua entre os dentes como fazia antigamente.
    Adolescência – Um garoto perturba a todos com o violino que acabara de ganhar. Cansados, os vizinhos e o pai contratam Vandeca Furacão para que o garoto se esquecesse do instrumento musical.
    3. “De olho na linguagem” - prova que é possível ser engraçado sem abrir mão do bom português. A crônica “Sexa”, que aborda a ingenuidade de um garoto diante da mente maliciosa do pai, já vale o livro.
    Crônicas de "De olho na linguagem":
    Sexa – Um garoto interroga o pai sobre o feminino de sexo.
    Pá, pá, pá – Um brasileiro tenta explicar a uma americana o que significam certas expressões da língua como: “pois é”, pois sim, pois não e pá, pá, pá”.
    Defenestração – O narrador brinca com o significado de certas palavras e se interroga com o sentido de “defenestrar” – ato de atirar algo ou alguém da janela.
    Tintim – Brincadeira com as expressões brasileiras: tintim – barulho das moedas.
    Papos – O narrador brinca com as palavras e critica a gramática da língua portuguesa através da colocação pronominal.
    O jargão – O narrador se imagina um marinheiro, embora não entenda nada de barcos e começa a usar vários jargões (provavelmente inventados), fazendo uma crítica aos economistas que usam palavras as quais ninguém entende, mas que as pessoas jamais ousariam questionar.
    Pudor – O narrador brinca com o significado de algumas palavras, dentre elas “trilhão”, que antigamente significava um número muito alto, impossível de se imaginar e que hoje, devido à inflação e às mudanças de planos econômicos torna-se quase íntimo nosso.
    Palavreado – O narrador brinca com as palavras e imagina novos significados para elas (falácia, lascívia, fornida, lipídio, otorrino, pseudônimo etc.).
    4. “Fábulas” - mostra o lado cômico das situações mais embaraçosas do cotidiano
    Crônicas de "Fábulas":
    A novata – Conta o primeiro dia de trabalho na vida de uma jornalista. No início o chefe não acredita muito na moça, mas ela se revela uma ousada profissional.
    Bobagem – Dois amigos que não se viam há muitos anos porque estavam brigados e nem se lembravam do porquê. Pensaram que deveria ser bobagem. Conversaram, beberam, marcaram um outro encontro, mas um deles não compareceu porque havia se lembrado da bobagem que os fez brigar.
    Hábito Nacional – Vários políticos famosos brasileiros morrem em um desastre de avião. São Pedro quer levá-los direto para o inferno, mas Deus lhes perdoa. “Sabe como é, Brasileiro...”
    Pode acontecer – Dois amigos tramam atacar o Congresso Nacional e pegar políticos como reféns. O fracasso foi total, pois no dia combinado os políticos faltaram ao serviço.
    Direitos humanos - É a história do motorista Algemiro, que ao levar uns americanos para conhecer o Rio de Janeiro, encontra Budum Filho, um homem que estava lhe vendendo o dinheiro do jogo de bicho. Algemiro briga com o rapaz, mas este se faz de vítima para os americanos que o defendem.
    Segurança – Cansados de serem assaltados, os moradores de um condomínio fechado tentam de todas as maneiras buscar estratégias para espantar os ladrões e ficam cada vez mais trancados em suas próprias casas. Ao final, fazem uma rebelião, querendo fugir do Condomínio.
    5. “Falando sério” - é uma coletânea de crônicas sobre problemas comuns do cidadão brasileiro.
    Crônicas de "Falando sério":
    Fobias – O autor expõe diversos tipos de medos e aversões a alguma coisa (claustrofobia, acrofobia, collorfobia etc.) e brinca com o leitor querendo saber como se chamaria o medo de não ter o que ler.
    Anedotas – O narrador faz reflexões sobre as anedotas e diz que nem todos os humoristas conseguem fazê-la, pois é um processo único.
    Da timidez – O narrador faz uma exposição sobre pessoas tímidas que, mesmo querendo se esconder de todos, sempre acaba chamando a atenção de alguma forma.
    ABC – Comentários irônicos sobre o tamanho das letras de acordo com as idades. Quanto mais velhos ficamos, mais as letras diminuem. Segundo o narrador, esse processo está errado.
    6. “Exercícios de estilo”- finaliza a obra, com o autor brincando com estilos de texto sem perder a pose nem a graça.
    Crônicas de "Exercícios de estilo":
    Amor – “Poema mais ou menos de amor” – alguém que queria ser o guarda-roupa da amada para guardar seus segredos.
    Um, dois, três – O narrador diz querer, um dia, fazer uma crônica que enchesse o mundo de magia.
    O ator - Um ator leva seu trabalho tão a sério que confunde sua vida com a de seu personagem e acaba perdendo sua própria identidade.
    O recital - Um invasor tenta tocar seu instrumento musical (uma tuba) junto com um quarteto de cordas e a confusão se generaliza.
    Siglas - Os personagens, preocupados em arrumar uma sigla para seu novo partido, esquecem-se de seus princípios e de suas lutas e, em nome de uma boa sigla para o partido, mudam seus ideais políticos.
    Rápido - Em poucas palavras e em forma de diálogos, o autor conta a história de vida um casal que se encontra, casa-se, tem filhos, viram avós e já estão na idade “perigosa”, a de morrer de velhice.
    O classificado através da história - O autor faz brincadeiras com a própria língua e com os objetos a serem vendidos, como se fossem classificados de jornais.
    ............................................................
    A seguir, leia algumas crônicas contidas em Comédias para se ler na escola:
    SEXA
    - Pai...
    - Hmmmm?
    - Como é o feminino de sexo?
    - O quê?
    - O feminino de sexo.
    - Não tem.
    - Sexo não tem feminino?
    - Não.
    - Só tem sexo masculino?
    - É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
    - E como é o feminino de sexo?
    - Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
    - Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino...
    - O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "sexo" é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
    - Não devia ser "a sexa"?
    - Não.
    - Por que não?
    - Porque não! Desculpe, porque não. "Sexo" é sempre masculino.
    - O sexo da mulher é masculino?
    - Sexo mesmo. Igual ao do homem.
    - O sexo da mulher é igual ao do homem?
    - É. Quer dizer... Olha aqui: tem sexo masculino e o sexo feminino, certo?
    - Certo.
    - São duas coisas diferentes.
    - Então como é o feminino de sexo?
    - É igual ao masculino.
    - Mas não são diferentes?
    - Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.
    - Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
    - A palavra é masculina.
    - Não. "A palavra" é feminino. Se fosse masculino seria "o pal..."
    - Chega! Vai brincar, vai...
    O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:
    - Temos que ficar de olho nesse guri...
    - Por quê?
    - Ele só pensa em gramática...

    TINTIM
    Durante alguns anos, o tintim me intrigou. Tintim por tintim: o que queria dizer aquilo? Imaginei que fosse alguma misteriosa medida de outros tempos que sobrevivera ao sistema métrico, como a braça, a légua, etc. Outro mistério era o triz. Qual a exata definição de um triz? É uma subdivisão de tempo ou de espaço. As coisas deixam de acontecer por um triz, por uma fração de segundo ou de milímetro. Mas que fração? O triz talvez correspondesse a meio tintim, ou o tintim a um décimo de triz. Tanto o tintim quanto o triz pertenceriam ao obscuro mundo das microcoisas. Há quem diga que não existe uma fração mínima de matéria, que tudo pode ser dividido e subdividido. Assim como existe o infinito para fora - isto é, o espaço sem fim, depois que o Universo acaba - existiria o infinito para dentro. A menor fração da menor partícula do último átomo ainda seria formada por dois trizes, e cada triz por dois tintins, e cada tintim por dois trizes, e assim por diante, até a loucura.
    Descobri, finalmente, o que significa tintim. É verdade que, se tivesse me dado o trabalho de olhar no dicionário mais cedo, minha ignorância não teria durado tanto. Mas o óbvio, às vezes, é a última coisa que nos ocorre. Está no Aurelião. Tintim, vocábulo onomatopaico que evoca o tinido das moedas. Originalmente, portanto, “tintim por tintim” indicava um pagamento feito minuciosamente, moeda por moeda. Isso no tempo em que as moedas, no Brasil, tiniam, ao contrário de hoje, quando são feitas de papelão e se chocam sem ruído. Numa investigação feita hoje da corrupção no país tintim por tintim ficaríamos tinindo sem parar e chegaríamos a uma nova concepção de infinito.
    Tintim por tintim. A menina muito dada namoraria sim-sim por sim-sim. O gordo incontrolável progrediria pela vida quindim por quindim. O telespectador habitual viveria plim-plim por plim-plim. E você e eu vamos ganhando nosso salário tin por tin (olha aí, a inflação já levou dois tins). Resolvido o mistério do tintim, que não é uma subdivisão nem de tempo nem de espaço nem de matéria, resta o triz. O Aurelião não nos ajuda. “Triz”, diz ele, significa por pouco. Sim, mas que pouco?
    Queremos algarismos, vírgulas, zeros, definições para “triz”. Substantivo feminino. Popular. “Icterícia.” Triz quer dizer icterícia. Ou teremos que mudar todas as nossas teorias sobre o Universo ou teremos que mudar de assunto. Acho melhor mudar de assunto. O Universo já tem problemas demais.

    SEGURANÇA
    O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua segurança. Havia as mais belas casas, os jardins, os playgrounds, as piscinas, mas havia, acima de tudo, segurança. Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados.
    Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões pulavam os muros e assaltavam as casas.
    Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao longo do muro alto. Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. Os proprietários e seus familiares também. Não passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem os bebês.
    Mas os assaltos continuaram.
    Decidiram eletrificar os muros. Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão de guardas com ordens de atirar para matar.
    Mas os assaltos continuaram.
    Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas. Todas as janelas foram engradadas
    . Mas os assaltos continuaram.
    Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de casa o mínimo possível. Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no banco de trás do carro de um proprietário, com um revólver apontado para a sua nuca. Assaltaram a casa, depois saíram no carro roubado, com crachás roubados. Além do controle das entradas, passou a ser feito um rigoroso controle das saídas. Para sair, só com um exame demorado do crachá e com autorização expressa da guarda, que não queria conversa nem aceitava suborno.
    Mas os assaltos continuaram.
    Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema. Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos.
    E ninguém pode sair.
    Agora, a segurança é completa. Não tem havido mais assaltos. Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do garnde portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades da sua casa, olhando melancolicamente para a rua.
    Mas surgiu outro problema.
    As tentativas de fuga. E há motins constantes de condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade.
    A guarda tem sido obrigada a agir com energia.

    PAPOS
    - Me disseram...
    - Disseram-me.
    - Hein?
    - O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.
    - Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”?
    - O quê?
    - Digo-te que você...
    - O “te” e o “você” não combinam.
    - Lhe digo?
    - Também não. O que você ia me dizer?
    - Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?
    - Partir-te a cara.
    - Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.
    - É para o seu bem.
    - Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu...
    - O quê?
    - O mato.
    - Que mato?
    - Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?
    - Eu só estava querendo...
    - Pois esqueça-o e pára-te. Pronome no lugar certo é elitismo!
    - Se você prefere falar errado...
    - Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me?
    - No caso... não sei.
    - Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?
    - Esquece.
    - Não. Como “esquece”? Você prefere falar errado? E o certo é “esquece” ou “esqueça”? Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos.
    - Depende.
    - Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o.
    - Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.
    - Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dá. Mas não posso mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia.
    - Por quê?
    - Porque, com todo este papo, esqueci-lo.

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      Em 12 de abril de 1961 o homem decolava, pela primeira vez, rumo ao espaço. Em 2011, no aniversário de 50 anos deste fato, ocorreram comemorações no mundo inteiro e, principalmente, na Rússia.
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      Tsunami significa "onda gigante", em japonês. Os tsunamis são um tipo especial de onda oceânica, gerada por distúrbios sísmicos.
     

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